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Juca de Oliveira fala sobre ‘Rei Lear’, onde interpreta seis personagens

Juca estrela a montagem  com direção de Elias Andreato | João Caldas/Divulgação
Juca estrela a montagem
com direção de Elias Andreato | João Caldas/Divulgação

O ator Juca de Oliveira já atuou em três espetáculos escritos por William Shakespeare (1564-1616): “Júlio César” (1966), “Ricardo 3º” (1975) e “Otelo” (1982), mas sua nova montagem, “Rei Lear”, que estreia nesta sexta-feira, tem um sabor especial.

Adaptada por Geraldo Carneiro, a encenação foi moldada para ser transformada em espetáculo solo. Assim, ele vai subir ao palco não apenas como o velho rei, mas também como suas três filhas e outras personagens da tragédia, contabilizando seis ao todo.

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Dirigida por Elias Andreato, a peça será contada a partir dos momentos centrais da história de Lear, que, aos 80 anos, decide dividir o reino entre as filhas Goneril, Regana e Cordélia. A intenção cria momentos de cobiça, ingratidão e falsidade entre as pessoas em torno do rei.

Serviço: No Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (av. Paulista, 2.073, Bela Vista; tel.: 3170-4059). Sexta e sábado, às 21h; domingo, às 19h. R$ 60. Até 12/10.

Confira a entrevista de Juca de Oliveira ao Metro Jornal.
– Essa é a primeira vez que Rei Lear é encenada como solo. Por que o senhor decidiu apresentar o espetáculo dessa maneira?
É a primeira vez. Acontece que eu não sabia. Quando comecei estudar e senti as enormes dificuldades do texto, saí à procura de gravações de monólogos do Rei Lear feitos por atores ingleses. E fiquei estupefato, não havia tal monólogo, nós éramos os primeiros! A decisão não foi minha, mas do nosso poeta maior Geraldo Carneiro, o mais inspirado tradutor de Shakespeare e que resolveu partir para esse audacioso projeto, o maior desafio que enfrentei em quase sessenta anos de teatro.

– Como foi feita a divisão dos papeis de modo a manter a história em sua linearidade? Como o público poderá distinguir entre um personagem e outro
São Seis personagens: Rei Lear, as filhas Goneril. Regan e Cordélia, o amigo e assessor Kent e o Bobo. Não tínhamos a menor ideia de como o público se comportaria diante do nosso Rei Lear. E a tremenda surpresa é que já fizemos três espetáculos depois da estreia e tem sido um sucesso, graças a Melpômene e Thalia, as musas que reverenciamos e nos protegem. Falei com uma infinidade de espectadores depois do espetáculo, todos não só distinguem, mas chegam a afirmar que «vêem» as personagens sobre o palco. Muitos se comovem. Claro, morri de felicidade!

– Seu último Shakespeare foi em 1982, com Otelo. O que diferencia e o que une Rei Lear desse espetáculo e dos outros dois que o senhor encenou, Júlio César e Ricardo III?
Shakespeare é o sonho de qualquer ator. Depois desses três espetáculos, depois do Othelo, o último, continuei querendo mais. Quando estudei na Escola de Arte Dramática os meus queridos professores Paulo Mendonça e Alberto D’Aversa diziam ambos mais ou menos isto: ‘Se você quiser conhecer a alma do homem e a sua tragédia sobre a terra, leia Shakespeare’. Ele é sempre atual. Veja por exemplo o tema do Rei Lear, a ingratidão filial. Essa tragédia é extremamente atual. Com o aumento da longevidade e dos problemas com a previdência social, os filhos, para afastar dos seus celulares preocupaçõees e cuidados, internam seus pais em asilos, indiferentes aos deveres filiais, afeto e solidariedade. Sobre isso escrevi no programa: «Hoje, mais do que nunca, filhos e filhas, modernos clones de Goneril e Regan, continuam expulsando de casa os velhos pais para encarcerá-los em asilos, até a morte. Puro Shakespeare. Puro Rei Lear».

– Rei Lear é considerado um dos principais desafios para qualquer ator. Como o senhor tem lidado com esse desafio? Ele é o seu maior desafio na carreira?
Sim, foi o maior desafio de meus quase 60 anos de palco. O teatro é Uma arte coletiva, um fenômeno de magia, de presenças. Todos são iguais. É um espetáculo solo, mas preciso do Elias Andreato, o diretor que me guiou, André Acioli, o assistente da direção que me assessorou sempre, a Melissa Vettore que me ajudou na preparação corporal, A Edi Montechio que me ajudou na voz, a Keila, a produtora, sempre disponível e presente 24 horas por dia. E também trabalho, dedicação e muita paixão, não há outro jeito de se enfrentar um desafio desse tamanho. E hoje, como é sabido, não podemos produzir nossos espetáculos sem o apoio de empresas que reconhecam a importância cultural do que fazemos. Portanto, em nome do teatro devo agradecer aos nossos patrocinadores ao Banco Itaú, ao Laboratório Cristália e a Prodesp.

– Rei Lear trata de temáticas políticas. O senhor consegue relacionar a obra com o contexto político atual no Brasil? Ou então algum momento específico que tenhamos passado?
O Rei Lear trata de um tema familiar. Não tem o conteúdo político de Julio Cesar ou Ricardo III, por exemplo. Pra se ter uma ideia da modernidade de Shakespeare, Kevin Spacey, o grande ator americano ganhador de dois Oscars, no seriado «House of Cards», em cartaz e enorme sucesso, faz Frank, o Vice Presidente dos Estados Unidos. Spacey afirma que se baseou no Ricardo III para fazer o personagem.

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