para o Brasil aos 3 anos | Divulgação
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Um pai, um filho e milhões de coisas a serem ditas. “O Inventário das Coisas Ausentes” traçado por Carola Saavedra parece um desafio para o leitor. Listar o que deveria, mas não está lá.
O centro da narrativa são conflituosos relacionamentos em família e o reflexo deles. O drama central mostra o reencontro de um pai marcado pela brutalidade da ditadura militar e do filho escritor depois de muitos anos sem falar com ele.
Carola é considerada uma das grandes promessas de sua geração de escritores. Atualmente em sua sexta obra, ela leva no currículo o prêmio de melhor romance em 2008 segundo a Associação Paulista dos Críticos de Arte por “Flores Azuis”. Pela obra, foi ainda finalista dos prêmios Jabuti e São Paulo de Literatura, para os quais foi novamente indicada em 2011 com “Paisagem com Dromedário”. Seus livros já foram traduzidos na Alemanha e na França e chegam este ano aos Estados Unidos.
A autora é chilena e veio ao Brasil aos três anos. Vive hoje no Rio, onde é também tradutora. Em “O Inventário das Coisas Ausentes”, ela traz um pouco de sua história pessoal para os personagens. “A história do avô de Nina, cineasta ateu que se converte à religião depois de uma cura milagrosa, é baseada, sob alguns aspectos, na vida do meu avô. É claro que ao passá-la para a ficção eu inclui uma série de situações que nunca existiram”, conta. Carola conversou sobre seu trabalho com o Metro Jornal.
Como surgiu o livro?
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Há muito tempo queria contar a história de um pai e um filho que se reencontram depois de muitos anos sem se falar. Eu sabia algumas coisas sobre o pai (que havia sido preso e torturado durante a ditadura, que tinha grandes dificuldades de relacionamento) e muito pouco sobre o filho. A partir dessa ideia fui desenvolvendo, paralelamente, as demais histórias.
A família é um tema central para você?
Neste livro, sim. Desta vez, quis trabalhar com o tema da origem, traçar uma espécie de genealogia dos personagens. A ideia principal é que somos resultado (também) dessa herança, e me refiro aí não tanto à genética, mas à herança social, cultural. Somos resultado das histórias que perpassam nossa família, dos medos, amores e escolhas dos antepassados. Uma herança que carregamos para o resto da vida. Por isso relações familiares são tão estáticas, difíceis de mudar.
O conceito de amor aparece em algumas histórias. Para você, o que é o amor?
Acho que tendemos a confundir amor com paixão. Na paixão, gostamos do outro porque ele corresponde ao nosso ideal. O outro é fascinante, perfeito, ou seja, irreal. Por isso, quando se transforma num relacionamento, muitas vezes acabamos nos decepcionando. Já o amor é sempre “apesar de”. Conhecemos o outro, sabemos não somente das qualidades, mas também dos defeitos, e mesmo assim continuamos amando. O amor é um pacto diário, todos os dias acordamos, olhamos para a pessoa ao nosso lado e nos decidimos por continuar ali, junto a ela.