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Lugares onde as pessoas vivem mais têm vida simples e comida natural

Você já ouviu falar nas Blue Zones? São as regiões de maior longevidade do planeta. Nessas áreas — Okinawa, no Japão, Sardenha, na Itália, Ikaria, na Grécia, Loma Linda, na Califórnia (EUA) e Nicoya, na Costa Rica —, o número de pessoas com mais de 100 anos é três vezes superior à média mundial. Mas não é só uma questão de idade: apesar das diferentes culturas, essas populações têm em comum uma qualidade de vida invejável, são saudáveis e felizes.

Dan Buettner, pesquisador da National Geographic e autor de vários best-sellers, foi o idealizador do Projeto Blue Zones — um estudo detalhado dos hábitos, comportamentos e interação dessas populações como o meio ambiente. Buettner compartilhou seu aprendizado sobre estilo de vida e hábitos que possibilitam a vida longa e feliz no XV Fórum da Longevidade Bradesco Seguros.

Buettner abriu a palestra contando como a pandemia impactou a sua vida. “Escolhi ver esse momento como uma oportunidade. Viajava 200 dias por ano. A pandemia interrompeu esse processo e decidi desacelerar e realinhar meu propósito, reconectar com meus familiares e relacionamentos importantes, ler muito e aproveitar mais a vida.”

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Ele apontou as Blue Zones como um exemplo de como adotar um estilo de vida saudável ajuda não apenas no controle das doenças crônicas, mas também na proteção em relação às doenças infecciosas, já que aquelas áreas tiveram baixos índices de infecção e poucas mortes. E destaca três fatores.

  1. A população dessas regiões tem baixíssimos índices de diabetes, obesidade e cardiopatias — “e o maior fator de risco de morte por Covid são essas comorbidades”.
  2. As Blue Zones ficam em lugares remotos, distantes dos grandes centros, onde há menor fluxo de pessoas potencialmente infectadas.
  3. “A população idosa, que também é de alto risco, é considerada um tesouro, não colocada em asilos, como nos Estados Unidos. Os velhos são cuidados pela família: geralmente têm sua própria casa, à vezes no fundo da residência dos filhos. Eu diria que eles estão mais protegidos, por exemplo, que os idosos americanos.”

O objetivo do projeto Blue Zones era encontrar um denominador comum que explicasse a longevidade nesses locais. E tendências muito claras surgiram: entre os pontos em comum nessas regiões está uma dieta rica em alimentos frescos, a vida ativa, fortes conexões familiares e uma atitude positiva diante da vida.
Buettner conta que a alimentação dessas regiões é rica em produtos integrais in natura, muito próxima da chamada Whole Food Plant Based Diet (dieta integral baseada em vegetais, em tradução livre). A base são os cereais e grãos integrais, vegetais, castanhas, tubérculos e leguminosas.
“É uma comida camponesa, barata, com sabor delicioso. E eles comem carne cerca de cinco vezes por mês. Carnes e doces são alimentos comemorativos.”

Segundo o pesquisador, as Blue Zones foram os primeiros lugares a comprovar a importância de determinantes sociais na saúde. “As pessoas estão conectadas socialmente. A opção de sentir solidão não existe. Elas são religiosas, o que também gera uma rede de segurança social, assim como a oportunidade de desacelerar todos os dias.”

A grande questão, no entanto, é como reproduzir esses aprendizados em outros lugares. Buettner explica que, nas Blue Zones, as pessoas não estão preocupadas em se disciplinar ou melhorar os hábitos: elas estão apenas vivendo suas vidas.

“E o principal aprendizado é que, para criar uma população mais saudável, com menos doenças crônicas e que viva mais é preciso estruturar o ambiente. Assegurar que a opção saudável seja a mais fácil”, afirma. A idéia é que as pessoas sigam com as suas rotinas e comam mais vegetais porque é mais barato e acessível. Estejam mais propensas a andar do que a pegar o carro porque as ruas são seguras e limpas e porque chegam mais depressa nos lugares a pé do que de carro.

Sobre a importância de resgatar e reforçar as conexões pessoais, valorizando os relacionamentos familiares e de amizade, o pesquisador ressalta a necessidade de se adaptar ao momento.
“Antes da pandemia, eu não achava as ferramentas de videoconferência algo importante, mas comprovei, quando entramos em confinamento, que através delas conseguimos ter uma conversa profunda com os nossos amigos e familiares. O ideal seria encontrar pessoalmente, olho no olho, mas virtualmente á a segunda melhor opção.”

RECEITAS CENTENÁRIAS DE SAÚDE

Com a proposta de trazer os bons hábitos para o cotidiano das pessoas, há alguns anos Buettner retornou aos vilarejos das Blue Zones para coletar as receitas que aquelas pessoas vinham fazendo há 500 anos.

“Na Universidade de Harvard (EUA), fiz uma metanálise para descobrir exatamente o que os moradores das Blue Zones estavam comendo nos últimos cem anos. Reunimos 155 pesquisas nutricionais e comprovamos que eles comem alimentos do campo, produtos baratos e frescos.”

O pesquisador conta que o ingrediente comum na alimentação dessas regiões é o sabor. “Atribuímos isso às mulheres locais, que depois de centenas de anos de tentativa e erro, aprenderam a cozinhar esses alimentos simples de uma maneira deliciosa.”

No livro The Blue Zone Kitchen (no Brasil, Zonas Azuis: A Solução para Comer e Viver como os Povos mais Saudáveis do Planeta), Buettner reune as cem melhores receitas para chegar aos cem anos.

“Encontramos as melhores cozinheiras, senhoras de de 70 ou 80 anos, e pegamos essas receitas antes que desaparecessem. Testamos 500 receitas e escolhemos as mais saborosas. E isso vai ajudar as pessoas a colocar a alimentação saudável em prática, a ponto de sentirem a diferença na saúde.”

O pesquisador enfatiza que não existe solução de curto prazo quando se trata de saúde e longevidade. “A única coisa que funciona é fazer o que é certo pelo tempo certo e evitar o que é errado para não desenvolver uma doença crônica. E adotar uma dieta integral baseada nos vegetais que você gosta proporciona ao seu organismo a melhor chance de chegar aos 90 anos saudável.”

FELICIDADE E BEM-ESTAR

A conexão entre felicidade e saúde é uma das descobertas das pesquisas de Buettner. “Os habitantes das Blue Zones vivem mais também porque são felizes. A maioria deles mora nos 10% dos lugares mais felizes do mundo. Descobrimos que onde há saúde, há felicidade. E geralmente onde há felicidade real, de longo prazo, há saúde também.”

E a felicidade não depende de coisas complexas ou especiais: é construída no dia a dia, ao trabalhar com o se gosta, cultivando a proximidade com a família e com os amigos e exercitando a empatia, pensando no que se pode oferecer aos outros. Isso tudo dá à vida um sentido e um propósito.

“As Blue Zones concentram a experiência de centenas, talvez milhares de anos de observação da história da humanidade, que produziu essas culturas onde as pessoas vivem por mais tempo. Temos o modelo: sabemos exatamente o motivo dessa longevidade. E esse modelo pode ser implementado em outros lugares. Para isso temos que analisar todos os aspectos da comunidade e tornar a escolha saudável a escolha mais fácil.”


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