Você certamente conhece alguém que precisou reduzir o consumo de um alimento ou a cortá-lo de vez do cardápio por conta de intolerância ou alergia alimentar. Apesar de os sintomas dos dois problemas muitas vezes se confundirem, eles têm origens diferentes e exigem cuidados específicos.
Não existem estatísticas a respeito no Brasil, mas os especialistas observam um aumento na incidência dos casos tanto de alergia como de intolerância alimentar. A nutricionista Andrezza Botelho, especialista em Nutrição Funcional e Fitoterapia, explica as diferenças.
ALERGIA
«A alergia alimentar é uma reação do organismo à proteína de determinado alimento. O sistema imunológico encara essa proteína como inimiga e reage na forma de manchas na pele, inchaço na boca e nos olhos, coceira, tosse, falta de ar, vômito ou diarreia”, conta. Há casos em que a reação é violenta e imediata: quando atinge múltiplos órgãos (pele, aparelho respiratório e sistema gastrointestinal, por exemplo), é considerada grave.
A alergia alimentar, que atinge cerca de 8% da população mundial, costuma surgir na infância e, nesses casos, há chance de desaparecer com a retirada do alimento causador do problema e com o desenvolvimento do organismo. Mas, quando continua até a idade adulta ou se aparece nessa fase, tende a permanecer pelo resto da vida. O diagnostico deve ser feito por médico ou nutricionista e a recomendação é retirar da dieta o item causador do problema.
“Quando a pessoa tem alergia ao glúten (proteína presente no trigo, no centeio, na cevada), deve exclui-lo da alimentação. No caso de alergia ao leite, o causador pode ser a caseína (uma proteína) ou as proteínas do soro do leite. Isso é diferente de intolerância à lactose, que é a dificuldade de digerir o açúcar do leite”, afirma Andrezza.
E a doença celíaca? Ela é uma reação imunológica do organismo ao glúten, que causa uma inflamação grave no intestino e pode levar à desnutrição por má absorção de nutrientes. Segundo o gastropediatra José Vicente Noronha Spolidoro, membro da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS), o diagnóstico médico da doença celíaca é feito a partir de uma endoscopia digestiva e biópsia intestinal. Se confirmada a doença, o glúten deve ser permanentemente retirado da dieta.
Segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), cerca de 80% das alergias alimentares são causadas por:
- Leite e derivados
- Ovo
- Peixes e frutos do mar
- Amendoim
- Trigo
- Soja
- Castanhas
INTOLERÂNCIA
Na intolerância alimentar, uma determinada substância não é totalmente digerida pelo organismo e tende a acumular, provocando desconfortos como dor abdominal, gases, enjoo, diarreia, enxaqueca e até ganho de peso. Como o grau de intolerância varia (baixo, médio ou alto), seus efeitos podem demorar horas, dias ou meses para se manifestar. E o transtorno é mais comum que a alergia: estima-se que cerca de 50% da população global sofra de algum tipo de intolerância alimentar ao longo da vida.
Andrezza aponta as principais causas da intolerância:
- Carência de enzimas para processar determinado nutriente: no caso do leite, há produção insuficiente de lactase, a enzima responsável por digerir a lactose.
- Monotonia alimentar: quem come sempre os mesmo alimentos está mais sujeito a desenvolver o problema.
Está aí mais uma diferença em relação à alergia: enquanto esta ocorre com um alimento que é rejeitado pelo organismo, na intolerância é comum o causador estar entre os preferidos da pessoa que sofre com o problema.
“Mastigar bem é muito importante para evitar a intolerância: quanto mais você tritura a comida, melhor é a sua absorção. Isso faz com que o alimento não seja percebido pelo organismo como um corpo estranho», completa a especialista.
Andrezza também alerta para não tomar líquido na refeição. “Muitas vezes identificamos um ciclo vicioso: a pessoa não mastiga ou come rápido. Então, bebe suco para ‘empurrar’ a comida. O líquido dilui o suco gástrico e compromete a digestão. O paciente não presta atenção no que come, repete sempre sempre as mesmas coisas… Chega uma hora que o organismo sobrecarrega e desenvolve a intolerância. E os sintomas acabam atingindo o órgão mais vulnerável de cada um.
Os principais geradores de intolerância alimentar são:
- Leite e seus derivados
- Glúten (trigo, cevada, centeio)
- Castanhas
- Produtos fermentados (vinho, suco de uva, fermento, cogumelos)
- Carnes processadas
- Produtos com corantes e conservantes
- Frutas cítricas
Diferentemente da alergia, a intolerância alimentar pode regredir e até desaparecer. O tratamento começa com a retirada temporária dos alimentos que desencadearam o processo. Existem alguns testes disponíveis que medem o grau de intolerância a diversos tipos de alimentos.
“Costumo começar retirando esses alimentos do cardápio por três semanas. A partir da resposta do paciente, vou reintroduzindo cada item aos poucos, com intervalos de consumo de pelo menos três dias”, diz Andressa.
E fica a dica: se você está na dúvida se tem intolerância ou alergia alimentar, procure um especialista.