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61. Dez anos depois, uma grande ideia

Dizem que a gente nasce e a vida é um grande aprendizado para a morte. Sei não é bom viver. Ficar velho no Brasil é mesmo mais difícil. Começa pela conta que querem cobrar da gente por terem quebrado o país. Quanta gente que, como o governo, não respeita o idoso! Jovens na pressa do trabalho e da pura falta de educação param nas vagas reservadas pra nós, bem como não respeitam nem cadeirante. Nas filas, ficam te olhando atravessado com as dores da idade, sua colaboração por tempo de serviço, sua corrida para pegar uma aposentadoria que, se paga a comida, não paga  o remédio.

Quantos desprezam ou olham feio para o velho médico que salvou muitas vidas, inclusive a de algum familiar do mal-educado. Velho bombeiro que foi herói nas tragédias da vida, quantas portas você já abriu para gente que nem te olhava enquanto você zelava pela segurança das famílias do prédio.

Quantos edifícios, moço, você construiu? Quantas pontes e casas e nem uma pra morar você tem. E aquele hospital, moço, que salva tantas vidas e te joga nas longas filas de espera da vergonha da Previdência, você (como já cantava Zé Ramalho) também trabalhou lá.

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Mas pensando bem, já dizia o poeta, como se morre de doença ou acidente, ou velhice se morre de indiferença (neste país mais que nunca). Não há mais muito o que falar.

No sábado, como qualquer criança, senti saudades do meu pai e de minha amada mãe, ao lado do criado-mudo, aprisionados numa foto em branco e preto do tempo, mas fui acordado pelos parabéns festivo de filhos e netos, sinal claro de que a vida continua no frescor da juventude.

Pelos cumprimentos percebi mais amigos que pensei e pelo abraço me senti também mais amado que mereço. O beijo da minha Tide querida é tão bom quanto há quase 50 anos, uma vida inteira juntos. Vida em que passei dificuldades na infância, ganhei demais, perdi quase tudo menos a indignação de uma vida bem próximo do que é ser correto.

Não sei o quanto estou distante da linha de chegada, mas mais do que nunca a corrida desses 61 anos já foi muito melhor que destino.

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