Ver muitos veículos da chamada grande mídia batendo em Nuzman, agora, só agora, com ares de “independência”, de “jornalismo coragem”, após anos de omissão e/ou oba-oba, me lembra das manchetes em que várias destas mesmas empresas, hoje, só hoje, criticam Aécio – somente quando a casa caiu de uma forma que, nem para o mais protegido, para o incrivelmente poupado, dava para aliviar totalmente.
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Ouvir o silêncio ensurdecedor dos paneleiros seletivos me remete aos torcedores/técnicos/jogadores/dirigentes que só falam mal da arbitragem quando ela os prejudica; à cultura do futebol de levantar o braço, xingar, espernear só pelo próprio time, a despeito da ausência de ínfima certeza se a justiça, a razão estão sendo contempladas.
Ler a surreal notícia de um prefeito/presidenciável que quer dar uma espécie de ração aos menos favorecidos, traz à mente os dirigentes oportunistas que elitizam um esporte popular e, no desespero, quando se aproximam do rebaixamento, por exemplo, fazem promoções para “ter o povo ao lado” – e nas entrevistas, de peito estufado, pavoneados, se sentem os verdadeiros “cidadãos de bem”.
Conversar com pessoas que se recusam a reconhecer qualquer erro em Lula, que negam como em grandíssima medida ele seguiu caminho oposto, eticamente, inclusive, ao que pregava; que se irritam diante da mera observação de que Lula, publicamente, quase nunca se defende entrando claramente no mérito das questões, preferindo largamente a retórica, a erística, o tentar “vencer o debate sem ter razão”, me leva de volta aos papos do recreio no colégio, quando, depois de um clássico, inúmeros colegas se recusavam, por exemplo, a reconhecer que uma torcida tinha sido maioria na tarde anterior – isso num cenário de 80 a 20%.
Quando digo que há ignorância ao não se compreender que retratar algo na arte não significa obrigatoriamente com aquela ideia exposta compactuar, não indica automaticamente panfletagem; que Flaubert não era necessariamente adúltero por ter construído Madame Bovary; que tampouco Philip Roth é machista por haver edificado figuras com supostos – ou reais – traços de misoginia, percebo que quase todos os machões do teclado que me xingam por defender essas coisas, por criticar a censura à arte, são os mesmos que fizerem troça quando citei em alguns programas determinados jogadores que são bonitos. Ao essa coincidência notar não me esqueço do quão retrógrado é o ambiente do esporte bretão, e relembro de como certas ignorâncias muitas vezes se misturam, chegam em bloco, funcionam quase por associação, na construção de uma agenda – em tempo e dando mais um elemento para esta última colocação: pesquisando em suas páginas pessoais observei, conforme esperado, que a esmagadora maioria dos personagens aos quais me referi neste parágrafo são “Bolsominions”.
Há paralelos infinitos entre política e futebol. Entre políticos e cartolas. Entra as mazelas destas duas editorias na imprensa. Entre o torcedor cego e o eleitor fanático.