Definitivamente, não. Tampouco é por ética, por respeito ao eleitor, por dignidade, por convicção, pelo bem público, pelo desenvolvimento social, por decência, por ideologia ou por recato, por causa de caráter, de compromisso político, de sonho de um país, estado e município melhores, por promessa religiosa ou perspectivas de um futuro mais justo e pleno de oportunidades para o coletivo. Não é em defesa do meio ambiente, do socialismo, do nazismo, do obscurantismo, da paz mundial, do liberalismo, do comunismo, desta ou daquela denominação religiosa, deste ou daquele valor, deste ou daquele discurso, classe, carreira, crença, da intervenção militar ou da dissolução das polícias, do resgate institucional, do livre-pensamento ou do dogmatismo. Não é por cautela ou por arrojo, por conservadorismo ou para “liberar-geral”, de esquerda ou de direita, de centro, autonomia ou atrelamento, aglutinação ou desagregação. Não visa melhorar nem piorar, não tenciona mudar ou manter o que aí está, não vislumbra construir nem destruir nada. Não está na defesa das baleias, das abelhas, dos índios, seringueiros, metalúrgicos, domésticas, médicos, carpinteiros ou flanelinhas. Não é para apoiar sindicatos de empregados ou de patrões, associações religiosas ou seculares, terceiro setor, iniciativa privada, mutirões de cidadania, ou bingos de solidariedade. Não tem como foco essa ou aquela proposta, defender sua aprovação ou rejeição, lutar por ou contra nada, apoiar tal ou qual visão de mundo, tal ou qual versão.
É por dinheiro. Para locupletar-se de recursos extraídos da sociedade através de impostos, taxas, contribuições e outras maneiras de extorsão e pilhagem legalizadas. É para encher o bolso, próprio, da família, de agregados. É para influenciar a indicação de diretores, de gerentes, de operadores desta ou daquela estatal, empresa pública ou fundação. É para salvar-se a si e aos seus chegados da mediocridade e da pobreza, frutos de pouca instrução ou preparo profissional abaixo da média. É para tomar dos outros o que não se alcançou pelo próprio esforço. É para tungar, desviar, subtrair, malversar, dar e receber propina sob o manto da impunidade, negociar voto, vender influência, prometer o que não pode entregar, enganar, iludir, mentir, fraudar e recolher a “féria da banca”. É para burlar as regras gerais, andar em elevador privativo, obter empréstimos sem garantia, ter dívidas perdoadas em bancos públicos, beber, comer, morar e se refastelar do luxo e de mordomias com dinheiro dos outros. É para não enfrentar fila, é para levar até cachorro para hospital de ponta por conta da viúva, é para usar jatinho da FAB ou helicóptero da polícia para ir à despedida de solteiro. É para sentar na primeira fila, para receber convite de cortesia, para ser rei do camarote. Seu voto é pedido para uma coisa, mas é usado para outra. O estelionato começa já nas urnas.