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O paraíso virou inferno

O uso das Forças Armadas no Rio de Janeiro significa exatamente o sucateamento do aparelho de segurança do Estado, na contramão da organização do crime nas comunidades com morro de um lado, cidadãos no meio e mar do outro, num perfeito sanduíche de insegurança pública em que o cidadão acuado é o recheio perfeito da tragédia humana por que passa o Brasil inteiro.

Lá é um pouco pior. O próprio ministro da Defesa confessou, em entrevista ao programa “90 minutos”, da Rádio Bandeirantes, que na Cidade Maravilhosa pelo menos 1 milhão de cidadãos vivem à margem das leis brasileiras e sob as regras do terror do crime. Diz ainda o ministro que as Forças Armadas, além de circulação pela cidade, vão agir no coração do mundo marginal com inteligência e apoio aos sistemas regulares de polícia expostos a salários atrasados e baixos, quando pagos em dia, armados com fuzis que não funcionam no meio dos confrontos, um naufragado programa de UPPs que não pacificou absolutamente nada e ainda expõe o policial à morte quase certa num universo de 91 policiais mortos do começo do ano até agora.

Fora isso naufragou também a maior parte do PAC, com obras que levariam o social ao povo excluído dos deveres do Estado para com o povo, lembrado na Constituição e esquecido na prática –aliás, como é comum no país inteiro.

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No Rio, o governo mafioso do Cabral com apoio de um também governo central corrupto expuseram o que temos de pior em parte de nossa classe política bandida, que não dá saúde, educação nem proteção a uma massa de gente esquecida e mesmo que invisível aos olhos de quem manda. Um fuzil apreendido por dia e 16 mortos por dia. Balas perdidas que tiram vidas de gente ainda na barriga da mãe, crianças acuadas em creches e escolas sob intenso tiroteio de armas de guerra. Caixas de bala extraídas em um único hospital de vítimas que ou sobreviveram ou fazem parte da estatística mortal de padecer literalmente no paraíso. Aplicativos de trânsito que indicam onde e quando está acontecendo um tiroteio a cada duas horas porque se, você pegar o caminho errado, com certeza tem a sorte de ficar ferido ou morre mesmo.

Um dia o poeta que fugiu da Segunda Guerra para ironicamente cometer suicídio na região serrana do Estado comparou o Rio à natureza que virou cidade. Se matou! Talvez até porque como um dos maiores escritores da época já soubesse que o paraíso um dia fosse virar o inferno que virou. Me ajuda aí!

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