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Realidade desinteressante

anderson-furlan-300Antigamente as pessoas usavam o telefone para falar com outras pessoas. As ligações eram caras, por isso se falava pouco. Era preferível falar pessoalmente. Na década de 90 do século XX, a internet se popularizou. A ambição tecnológica era que cada residência possuísse um computador para que pais e filhos tivessem acesso a mais informações.

Em 2007, surgiu em Cupertino, na Califórnia,  “a coisa que faz tudo” (a expressão é de Farhad Manjoo).  O iPhone provocou um terremoto em várias indústrias. Máquinas fotográficas, tocadores de Mp3, GPS,  calculadoras, aparelhos de fac-símile, gravadores de voz, despertadores, scanners, fotocopiadoras, enfim… a lista de vítimas do iPhone – e dos smartphones em geral – é  enorme.

Atualmente, 2 bilhões de pessoas utilizam smartphones. Como informado por Sean Poulter, em artigo no Daily Mail, pesquisas recentes mostram que as pessoas tocam na tela do smartphone a cada 4 minutos, cerca de 253 vezes durante um dia comum (em média 73 vezes durante o trabalho), equivalendo a 2 horas e 9 minutos por dia com os olhos fixados na tela. As pessoas gastam 24% desse tempo com Facebook e Twitter, outros 12% com Instagram, Snapchat e WhatsApp. Em cerca de 13% do tempo usa-se como um telefone e outros 9% como um navegador de internet.  O restante do tempo as pessoas passam jogando, fazendo compras ou assistindo vídeos.

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Talvez nem os profetas tecnológicos do século XX imaginassem que tantas pessoas teriam acesso a tanta informação.  O problema é a qualidade da informação consumida. Atualmente as pessoas leem mais. Leem mais títulos de notícias, leem mais postagens de amigos, leem e escrevem mais conversas em aplicativos de mensagens instantâneas ou de redes sociais. E, obviamente, tiram muito, muito mais fotos, embora quase nunca as imprimam. Como disse certa vez Leandro Karnal, provavelmente qualquer bebê de 1 ano tem mais fotos do que todas produzidas durante o século XIX.

O mais triste, entretanto, é perceber que muitas pessoas, apesar de conectadas com o mundo, perdem a conexão com o seu entorno. A realidade se tornou desinteressante. Uma aula, uma paisagem, um evento familiar, um show, nada é páreo para a sedução do smartphone. Mães que não tiram os olhos do telefone mesmo na presença do seus filhos. Amigos e namorados, presentes na mesma mesa, no mesmo ambiente, mas com as mentes separadas do corpo, tragadas pelo universo virtual. É preciso repensar essa relação. É preciso que sejamos todos um pouco ludistas.

 

Juiz Federal em Maringá-PR, mestre e doutorando em Ciências Jurídico-Econômicas pela Faculdade de Direito de Lisboa, professor de Direito Ambiental e Tributário, ex-presidente da APAJUFE.

 

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