Quem já não viu (ou protagonizou) uma daquelas cenas ridículas de competição na qual um diz ser o seu (qualquer coisa) maior, melhor, mais rápido, mais caro, mais importante? Ridícula porque, no fundo, toda comparação é uma enorme besteira: ganha-se aqui, perde-se ali e acolá tanto faz. Com o passar do tempo, os mais sensatos descobrem o valor daquilo que é imensurável, logo, incomparável também. Mas terminar 2016 invocando sensatez pode parecer provocação e, assim, rendo-me à mesquinhez de alguns políticos confraternizando em um destes coquetéis por nossa conta. Digo o que disseram, mas não revelo seus nomes, claro.
ANÚNCIO
– O Réveillon na minha cidade terá a maior bateria de fogos de artifício da história deste país! Contratamos uma empresa que promete um espocar para cada pessoa que esperou no SUS determinada consulta por mais de seis meses. As cores serão por especialidade: urologia, nefro, gastro, pneumo… Um show! Terminará com rojões significando quem já morreu.
– Grande coisa! Aposto que será menor no que o espetáculo da minha cidade. Nele, propus uma sequência de fogos muito mais duradoura. Será um para cada buraco nas ruas ou nas estradas. Os mais suntuosos significando carros avariados. Aqueles que parecem chuva de prata para os desabamentos de estradas depois dos temporais. Os barulhentos rojões para os menores, em perímetro urbano, só para lembrar o quanto infernizam.
– Perderam feio! Na minha cidade, contratamos fogos indexados pelas mortes violentas. Vermelhos para acidentes de carro, azuis para latrocínio, prateados para passionais, violência de gênero e intolerâncias. Aqueles de dois tempos para guerras de gangues e, ilustrando as execuções, escreveremos nos céus: MILICIANOS! Rojões significarão mortes por bala perdida ou engano.
– Dizem isso porque não imaginam as enormes cascatas de fogos de artifício da minha cidade. Eu criei o nome: “O Esplendor dos Recursos Desperdiçados na Burocracia, Corrupção e Ineficiência”. Do alto dos prédios, cada Real malversado dos impostos descerá de modo brilhante até o chão e, ao chegar, terá virado fumaça. Viram a força da metáfora? Imbatível!
E eles seguiram, ridículos, competindo: alunos analfabetos funcionais ao concluir o ensino fundamental, deficit orçamentário, valor da dívida, pesquisas que erraram os resultados, dólares no caixa dois, etc. Até que um, quieto, foi cobrado a dizer o tamanho do seu show de fogos. Com uma falsa humildade, vaticinou sua vitória. E todos emudeceram, humilhados:
– Será um espocar para cada amigo que entristeceu, discutiu, desgastou-se, brigou e chegou a bloquear outro amigo por nossa causa nas redes sociais…