Futebol se ganha no meio-campo: uma das máximas de Guardiola. Recentemente, o catalão repetiu um pensamento que pregoara logo no começo de sua ascensão como treinador: bendito o dia em que conseguirá escalar uma equipe com onze meio-campistas. A ideia passa, entre outras coisas, pela crença no passe enquanto fundamento chave para a construção/controle do jogo. O bom meio-campista, na sua visão, é obrigatoriamente um bom passador. Por essa razão, o anseio por um esquadrão formado apenas por eles. Óbvio que o único – comprovada e indubitavelmente – técnico genial em atividade não quer ser interpretado de maneira literal com a frase citada acima. Guardiola sempre venera os pontas, o drible. A necessidade da verticalidade no terço final. O que seria de um Xavi sem um Messi?
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Enquanto intelectual/estrategista da bola, Guardiola sempre variou muito seus sistemas. No Barcelona, apesar de ter optado diversas vezes por um 3-4-3, adotou o 4-3-3 como uma espécie de esquema base, como aliado fiel na obsessão por dominar o centro do campo e controlar as ações. A dinâmica do trio central fazia com que, invariavelmente, sua equipe tivesse superioridade numérica diante de adversários com apenas dois volantes e armadores descolados demais das disputas por espaço no coração do campo.
Na Copa do Mundo de 2014, se assanhava como tendência a volta das formações com três zagueiros. Nada do decantado 3-5-2. O que víamos nos gramados, na maior parte do tempo, era um 5-3-2. Veio a Euro de 2016 e a Itália de Antonio Conte chamou atenção de muita gente com um 3-4-3 – que sem a bola, se transformava em 5-3-2. Emblemático foi o confronto das quartas, quando a Alemanha, superior tecnicamente, elogiada taticamente, e encarnação mais próxima no mundo das seleções, naquele momento, da filosofia de Guardiola, saiu do seu desenho tradicional para espelhar a Azurra. Não foi o “menor” que se adequou ao bicho-papão: foi o contrário.
Agora no Chelsea, Conte conquistou, no último final de semana, a 11ª- vitória consecutiva na fortíssima Premier League. É líder com folga. É o técnico da moda. Mas o início da trajetória na terra da rainha, quando tentou atuar com uma linha de quatro atrás, não foi bom. Dado impressionante: justamente quando mudou para o adorado 3-4-3, a coisa passou a funcionar. A primeira partida da série de triunfos mencionada foi a primeira com este sistema. Desde então não o abandonou. E não perdeu. Resultado disso? Não apenas Conte recebeu status de “professor” do momento; o 3-4-3 que vira 5-3-2 sem a bola, sua marca, se transformou no esquema “tendência” da temporada.
Em suas versões mais qualificadas e vanguardistas, nos centros mais avançados, em termos táticos, do futebol, qual o grande motivo por trás desta opção pelo 3-4-3 nos moldes escolhidos por Conte? Tirar uma peça da linha de quatro defensiva para colocá-la no meio, onde o jogo é decidido. Não é este, desde sempre, um dos intentos principais de Guardiola?