O vice-governador Antônio Andrade sofreu, nesta semana, dois reveses. Primeiro, foi açodado no apoio que ofereceu ao candidato do PSDB, João Leite, mal contados os votos do primeiro turno e acabou sendo desautorizado pela bancada e parte do diretório do PMDB no Estado que se recusa a respaldar a sua decisão. Depois, por uma iniciativa que não lhe pertence, mas que lhe interessava de perto, o vice perdeu também a expectativa de assumir o governo no lugar de Fernando Pimentel com a decisão, ontem, do Superior Tribunal de Justiça que acatou a tese de que a Assembleia Legislativa do Estado precisa ser consultada até mesmo no caso de uma simples notificação de um processo contra o chefe do executivo.
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No primeiro caso, parece claro que o vice aproveitou o que lhe pareceu uma boa oportunidade para dar o troco no governador após uma série de desencontros, entre eles, originários justamente desse processo que corre no STJ por conta da Operação Acrônimo. Ainda verdes nas coisas da política, correligionários do vice passaram a dar como certo o afastamento de Pimentel do governo e a sua ascensão ao seu lugar, não fazendo o menor segredo disso. Seriam favas contadas, até porque o relator do processo, ministro Herman Benjamin, havia inicialmente dado seu voto nessa direção, ou seja, pelo afastamento imediato do governador sem necessidade de consulta à Assembleia Legislativa, a despeito da jurisprudência do STF de que o Legislativo é quem dá a palavra final em casos assim. Nesse embalo, o vice, que havia trabalhado a bancada de deputados federais para votar pelo impeachment da ex-presidente Dilma, viu na possibilidade de o deputado de seu partido, Rodrigo Pacheco, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno para a prefeitura de BH, apoiar João Leite, principal opositor do governo na Assembleia, o momento supostamente adequado para se manifestar contra Pimentel. E levou Rodrigo Pacheco ao apoio público, para desagrado da bancada pemedebista na ALMG que acabou desautorizando a manobra.
Ontem, os deputados se reuniram com o governador, no Palácio da Liberdade, para manifestar repúdio pela iniciativa do vice e reiterar seu apoio a Pimentel. Mais à tarde, o STJ divulgou a sua decisão, favoravelmente à tese de que o legislativo é quem dá a palavra final em caso de processos contra os governadores, na verdade uma jurisprudência que vem desde quando o então presidente FHC tentou algo parecido contra o governador Itamar Franco. Com a decisão, a Assembleia agora quer colocar essa matéria logo em votação para matar o assunto de uma vez por todas, contando para isso com o total de no mínimo 55 votos em favor do governador, quando apenas 26 seriam necessários. Não foi uma semana de boas notícias para o vice Antônio Andrade, que, no entanto, nega que haja qualquer divergência entre ele e Pimentel.
Carlos Lindenberg é colunista do Metro Jornal. Escreve neste espaço às quintas.