ANÚNCIO
Trago notícias do futuro: você perdeu as eleições. Isso acontece até nas melhores legendas. Calma, não lamente nem se desespere. Não é o fim do mundo – entre os candidatos, um só poderia ser o vencedor. Todos entraram na disputa conhecendo as regras. Como consolo, você comporá em breve uma maioria (os derrotados) e, no meu ponto de vista, terá papel relevante.
Bom, sabendo desde já que seus esforços não encontrarão o eco desejado nas urnas, ainda que (saudavelmente) duvide desta minha missiva, peço que você desvie das funções proativas o assessor mais articulado e coloque-o a estudar as propostas dos governos oponentes. De todos eles: lembre-se, estou dizendo que você perdeu, mas escondo a informação de quem logrou êxito. Acredito que nos programas estarão diversos pontos de contato, ainda que temperados por estratégias ligeira ou completamente diversas. Haverá umas cinco ou seis unanimidades. Encontre e concentre-se nelas.
Feito isso, ainda hoje, ou tão logo seja possível, marque para depois do escrutínio, com os demais, uma reunião que pode ser denominada de “fórum dos derrotados”. Convide a todos – quem faltar, óbvio, terá sido o vencedor – e, nela, preparem propostas a serem chamadas de “medidas de oposição responsável”. Itens que servirão para ajudar, e nunca atrapalhar, o sucesso de cinco ou seis demandas urgentes. Independentemente de ideologias, diretrizes programáticas e crenças. O que teríamos? Algo inédito: um prefeito eleito cuja oposição estaria vigilante e com uma pauta mínima a ser contemplada em benefício da cidade e de todos os cidadãos.
Peço que me dê ouvidos, caro candidato derrotado, e leve esta proposta para um minucioso exame de consciência na solidão do travesseiro. Ela guiará seu comportamento pós insucesso – ele chegará, estou avisando. Isso, ou vamos continuar seguindo na direção do “quanto pior, melhor”; firmes na persistente confusão entre estado, governo e partido; reprisando embates que interessam às pautas de poder, e não ao aprimoramento municipal; incapazes de construir consensos mesmo diante do cabal fracasso da grenalização estéril dos últimos anos. São estas teimosias que estão destruindo a cidade, jogando uns contra os outros e desacreditando a mim.
Assinado, Jovem Democracia
Rubem Penz é escritor, músico, publicitário, baterista e compositor. Autor de “Enquanto Tempo” e coordenador da oficina literária Santa Sede crônicas de botequim.