Depois de oito meses, finalmente começa hoje a fase final do julgamento do pedido de impeachment de Dilma. E começa com uma intensa quebra de braço entre a presidente que quer retornar e o interino que pretende continuar. Michel Temer já não esconde que está cabalando votos entre os 81 senadores para se manter na presidência da República. Temer está recebendo os senadores ainda tidos como indecisos ou que foram ministros de Dilma, como Edson Lobão, ou Oto Alencar, do PSB da Bahia, que votou duas vezes contra o impeachment, e não está regateando. No caso de Oto Alencar parece que ele conseguiu virar o voto do senador dilmista, que saiu da reunião com Temer dizendo que foi atendido na sua reivindicação em defesa do Rio São Francisco.
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Com a máquina administrativa na mão e com maioria no Senado, dificilmente Temer conseguirá perder essa disputa. Dilma vai jogar o peso de sua biografia pessoal na defesa que fará segunda-feira da tribuna do Senado. É o que lhe resta. É claro que vai olhar nos olhos dos senadores que foram seus ministros e, provavelmente, cobrar deles o testemunho de seu comportamento durante o período que com eles conviveu na condução da administração federal. E nesse sentido insistirá que não cometeu o crime de responsabilidade que lhe está sendo imputado. Aliás até por isso está levando para depor em seu favor quadros técnicos que reforçarão a tese de que o julgamento não se baseia em desvio de conduta capaz de configurar o crime de responsabilidade. Mesmo assim, é muito difícil que Dilma consiga os 54 votos de que precisa.
O julgamento ocorre no momento em que, do outro lado da Praça dos Três Poderes, o ministro Gilmar Mendes abre as baterias contra o Ministério Público Federal e condena, por três dias consecutivos, os métodos de ação dos promotores e procuradores que, segundo ele, tem usado e abusado da delação premiada e dos vazamentos selecionados – feitos para prejudicar alguém. Gilmar está fazendo assim a defesa de seu colega Dias Tofoli que foi premiado por uma suposta denúncia feita à revista VEJA, como possível forma de constranger o ministro por ter tomado decisões que contrariaram o interesse dos investigadores da Lava Jato. A iniciativa de Gilmar Mendes criou uma situação no mínimo desconfortável entre o Judiciário e o Ministério Público que acabou cancelando a delação que supostamente constrangeria o ministro Dias Tofoli. O que parece, na verdade, é que a Lava Jato dá a impressão de ter tomado a rédea nos dentes e de querer seguir no seu próprio diapasão, sob o pálio do juiz Sérgio Moro.
Carlos Lindenberg é colunista do Metro Jornal. Escreve neste espaço às quintas.