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Ação marqueteira

Gustavo Varella CabralVivemos, há muito tempo, cercados e sob a influência direta do marketing, um conjunto de conceitos, métodos e ações concatenadas para que se alcance um objetivo quase sempre relacionado à venda de um produto, uma ideia ou a imagem de uma pessoa, ou tudo isso junto. Industriais, comerciantes, profissionais liberais, políticos, artistas, enfim, um número quase infinito de pessoas valem-se de instrumentos de comunicação e construção lógica, informações históricas e antropológicas, dados da sociologia e da psicologia para construírem ou aprimorarem a si mesmos ou seus produtos e serviços, não sendo mais incomum propagandas com temas antes considerados tabus, como venda de sepultura, roupas íntimas, remédios para ereção. Porém, em tempos de comunicação instantânea e universal, há uma nova forma de construção de ideias ou de imagens que se caracteriza pela desinformação, pelo deboche, pelo cinismo e pela crença na idiotice dos ouvintes ou conviventes. É o marketing da ignorância, que prega a obscuridade como método, a generalização como estratégia e a vitimização como objetivo. A obscuridade está na negativa ou na camuflagem de atos ou suas consequências, muitas vezes transferindo a terceiros a responsabilidade pelo que se fez de modo a desviar o foco da atenção de sua pessoa, ou diluindo essa responsabilidade por um grupo maior de pessoas, como “os políticos”, “os advogados”, “os juízes” etc. A generalização consiste em colocar no mesmo nível diversas pessoas ou condutas, buscando igualar supostos efeitos ou contramedidas adotadas para apurar ou punir atos ilícitos, visando emplacar a máxima isonômica da bandidagem: “se fulano fez e não se deu mal, por que comigo será diferente?”. Por fim, a vitimização. Essa tática é, principalmente em países subdesenvolvidos e com forte formação religiosa, quase infalível. Quem nunca ouviu discursos pela não punição de alguém que teria cometido um crime porque foi maltratado na infância, passou necessidades ou não teve oportunidades na vida? É evidente que as desigualdades sociais no Brasil são gritantes, e esses elementos devem ser considerados por um juiz no momento de fixação da pena. Mas, quando se transforma o criminoso em vítima e sua vítima em criminoso, passa-se da esquizofrenia para a canalhice. É preciso estar atento, também, para os discursos de alguns que dominam suas áreas de atividade, como juristas, jornalistas, economistas, visto que têm facilidade em plantar ideias sob o manto da ciência, travestindo fatos graves, distorcendo números, fazendo citações de fontes de difícil acesso para o cidadão comum. Estratégias inteligentes de marketing transformam produtos ruins ou desnecessários em sonhos de consumo. Já o marketing da ignorância transforma um criminoso no ser mais honesto e puro de sua geração.

Gustavo Varella Cabral é advogado, professor, especializado  em Direito Empresarial e mestre em Direito Constitucional.

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