O deputado Eduardo Cunha não fugiu à-toa do mensageiro do Conselho de Ética encarregado de lhe entregar a notificação de que está sendo julgado. Esperto, o presidente da Câmara tenta ganhar tempo na expectativa de que a mesa diretora, da qual ele faz parte, receba, antes da notificação, o recurso de um dos seus aliados no Conselho de Ética pedindo a extinção do processo ou da aprovação da admissibilidade da acusação de quebra do decoro parlamentar.
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No fundo o que Eduardo Cunha quer é ganhar tempo. Durante todo o expediente do Conselho seus seguidores foram orientados a evitar, primeiro, a admissibilidade, depois o andamento do processo. No primeiro caso, ele conseguiu fazer com que a admissibilidade só fosse acolhida na sétima reunião, assim mesmo depois de o tema ser levado a voto no plenário do Conselho, onde Cunha perdeu por onze a nove votos.
Todo esse esforço de Cunha pode ser em vão. Se ele escapar do Conselho de Ética, dificilmente escapará do julgamento no Supremo Tribunal Federal, onde ontem mesmo o procurador geral da República, Rodrigo Janot, pediu o afastamento dele da presidência e do mandato. Cunha vai se defender, até por que ainda ontem o ministro Luís Fachin havia recusado pedido idêntico feito por cinco partidos com representação na Câmara.
O dia, ontem, não foi bom para Eduardo Cunha, a despeito do voto do ministro Fachin, no julgamento do Supremo sobre o rito do impeachment ter sido favorável a ele. Fachin considerou o voto aberto legal, também aprovou a chapa avulsa e não viu nada demais na votação em que Cunha criou a Comissão Especial. O relatório de Fachin vai ser votado hoje pelo Supremo que tem pressa em ficar livre do problema que lhe criaram os políticos nesse processo em a oposição pede o impedimento da presidente Dilma. O pedido de Janot para que Cunha se afaste da Câmara e da presidência pode até não prosperar, mas ontem o procurador geral da República fez mais uma acusação contra ele: a de que Cunha recebeu uma propina de R$ 52 milhões para liberar dinheiro do FGTS para uma empresa fluminense. Essa propina não tem nada a ver com aquela outra, de US$ 5 milhões, relatada pelo doleiro Alberto Yussef na Operação Lava Jato.
Carlos Lindenberg é colunista do jornal Metro e comentarista da TV Band Minas. Escreve neste espaço às quintas-feiras.