A mania de julgar apenas pelos resultados, de modo injusto, é um fenômeno que se entrelaça com o imediatismo e a bipolaridade, extremamente comuns no futebol brasileiro. As entrevistas de Levir Culpi têm se notabilizado, desde que ele voltou ao Brasil, pela espontaneidade, pela leveza, pela comicidade. Costumam ser ótimas. No mínimo, acima da média; um pequeno oásis no oceano de mesmice que assola as coletivas. Apesar de estas falas acabarem frequentemente elogiadas pela imprensa, sobretudo em âmbito nacional, a exaltação costuma ressaltar somente o lado engraçado dos depoimentos. E no fundo, a despeito da veia humorística, o treinador vem agregando bastante, e principalmente, em termos de conteúdo; qualidade das ideias apresentadas. Sua insistente menção deste lado apressado e simplório do julgamento a respeito do futebol, em terras tupiniquins, é um dos melhores exemplos disso.
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Como não poderia deixar de ser, a ironia tão óbvia quanto previsível se concretizou: com a derrota acachapante para o Corinthians, e a perda do título, as críticas, as reclamações feitas com relação ao trabalho de Levir – até então algo entre tímidas e de patamar mediano –, botaram as asinhas de fora; se despiram de qualquer pudor; encontraram o terreno propício para se materializarem como se não houvesse amanhã. Na última semana, dá para dizer, grande parte da opinião pública mostrou-se injusta com o técnico alvinegro. O presidente do Galo, num patamar ligeiramente menor, acabou entrando no pacote de vítimas dos discursos afobados, precipitados. Para mim, Daniel Nepomuceno faz ótima gestão.
Por mais que a mídia cobre uma valorização dos projetos em médio e longo prazo no futebol, a cultura do imediatismo ainda impera. E aí entra o lado curioso: o papo dos jornalistas, na prática, termina não comprado pela sociedade, pelos torcedores, que em seus arroubos de fanatismo e pouca lucidez, seguem não enxergando meio palmo à frente. Basta uma derrota para o retorno de um vício completamente enraizado: o de procurar bodes expiatórios, párias que seriam os responsáveis pelo “fracasso” retumbante – as aspas ali se fazem presentes porque, na nossa cultura, a consideração do segundo lugar como o fim do mundo dá novos (e equivocados) sentidos para a palavra “fracasso”. Ao mesmo tempo, boa parte da imprensa entra em grave contradição na medida em que, apesar de defender, a priori, em teoria, os trabalhos duradouros – talvez por achar o discurso bonito –, na cobertura do dia a dia, escorrega, infantilmente – e sem perceber –, na bipolaridade de buscar novas teses em função de apenas um jogo, de pedir mudanças no conjunto, na escalação, por uma derrota, e de julgar atletas e treinadores devido a somente um revés.
O trabalho de Levir não é perfeito. No todo, contudo, é mais que positivo, inquestionavelmente bom e vencedor.
Cadu Doné é comentarista esportivo da rádio Itatiaia e da TV Band Minas, filósofo e escritor.