Manifestações e sentimentos bairristas, regionalistas, em diversas acepções, refletem baixeza intelectual. Dentro do futebol, especificamente, pela pequeneza dos argumentos aos quais costumam se associar, quase sempre, exalam o ridículo. Entrar num tipo de discurso comum na mídia de que “os mineiros são sempre prejudicados”, de que o “complô para o eixo Rio-São Paulo” é forte demais, não me parece inteligente. Dá preguiça. Complexo de vira-lata. Se apresentar como coitadinho. É batido. Populismo. E, infelizmente, pega bem diante de um público pouco qualificado – e grande.
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Aliás, soa um paradoxo muito nítido, até cômico, de tão escancarado e pela bobeira que se apreende dessas falas, as incessantes reclamações do povo e da imprensa de Minas quanto ao “bairrismo do eixo” no futebol. Afinal, nessa seara, os mineiros esbanjam o defeito que enxergam nos outros para dar e vender; de maneira exageradamente clara, latente; denotando um provincianismo nada pequeno. Lembro da celeuma em torno da narração de Luiz Penido no jogo Galo e Flamengo do ano passado… Como se em BH os exemplos de locutores e comunicadores em geral fazendo algo na mesma linha, análogo, ou até pior – por envolver “ideias” –, não fossem infinitos… Parte normal do cotidiano.
Voltando ao paralelo do bairrismo com a arbitragem, ressalto: não considero correto, ao falar dos problemas nas atuações dos “homens do apito”, enveredar por essa trilha de que existe complô – ou, em última análise, uma espécie de benevolência forte e sistemática – para beneficiar equipes de determinado estado. Da mesma maneira, é claro que também são levianos certos tipos de gritos que cravam ou insinuam, sem uma ínfima centelha de prova, a existência de um esquema qualquer na arbitragem nacional.
Mas vejam bem. Cravar e insinuar são uma coisa. Não duvidar, dizer que não é impossível, não colocar a mão no fogo são bichos totalmente distintos…
Falar de arbitragem normalmente é muito chato. Algo positivo, porém, que tenho detectado nas incessantes discussões recentes a respeito do tema, é que vários ótimos jornalistas resolveram “sair do armário” e têm batido na tecla de que, se é leviano afirmar algo sem elementos, mostra-se inocente, pueril quem fica chocado, acha um absurdo qualquer menção da mera possibilidade de desonestidade por trás da atuação de juízes de futebol.
A má-fé, algo orquestrado manipulando o trabalho de árbitros, diga-se, não necessariamente acontece com o intuito claro e recorrente de beneficiar equipes, estados específicos. Lembremos que, no que se refere a escândalos recentes mundo afora, casas de aposta estiveram envolvidas em quase todos. Caso você me pergunte: “você acredita em esquema de arbitragem no atual campeonato brasileiro”? Eu diria: “não”. Colocar como impossível a influência de qualquer tipo de desonestidade nesse campo, contudo, é um contrassenso, é não ter percepção, inclusive, sobre o gênero humano.
Cadu Doné é comentarista esportivo da rádio Itatiaia e da TV Band Minas, filósofo e escritor