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Vergonha nacional, estadual e municipal

xico-vargas colunistaDa Copa do Mundo de 2014 guardaram-se dois resultados inesquecíveis para um país sem memória como este: a vergonha da eliminação por 7×1 pela Alemanha, de fatídica lembrança, e o Maracanã reformado e vazio, com ingressos impagáveis para o carioca do futebol de domingo. Das vergonhas cotidianas, no entanto, parecemos nos esquecer com mais facilidade. Entra semana, sai semana, e as vergonhas nacionais, estaduais e municipais se sucedem com tal naturalidade que talvez só mesmo um poderoso mecanismo de esquecimento nos permita levar a vida adiante.

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Quem passa na ponte Rio-Niterói, por exemplo, precisa esquecer que durante anos uma concessionária cobrou um pedágio mais caro do que o atual. Assim como quem navega no percurso Rio-Niterói não pode se dar ao luxo de lembrar que a CCR Barcas prometeu reformular a frota – que já foi motivo de orgulho nos anos 1960 –e hoje oferece um serviço incerto para quem depende da travessia pela Baía de Guanabara para trabalhar.

No trajeto de 15 minutos, a falta de memória ajuda a não mais lembrar da vergonha estadual do fracasso de todas as tentativas de despoluição da baía de Guanabara. Em 1994, o governo do Estado recebeu do BID U$1,2 bilhão, até hoje desaparecidos na sujeira que mistura política e corrupção, a mesma sujeira que inutilizou praias lindas como Icaraí, São Francisco, Charitas e Jururuba. Dentro de pouco mais de um ano, será bom já termos esquecido da promessa de que os atletas olímpicos encontrariam as águas limpas, mais uma das características do nosso sempre providencial “país sem memória”.

No embate diário entre taxistas e motoristas do aplicativo Uber, é útil não pensar que o serviço informal de transporte de passageiros cresce no vácuo de um sistema público de táxi cheio de problemas, que vão da pirataria ao desrespeito ao cliente, passando pela cara-de-pau de recusar corridas, sejam as curtas, por baratas, sejam as longas, por inconvenientes. Por fim, das vergonhas municipais que todos os dias é preciso esquecer para sair de casa está o sistema de transporte público, capaz de reunir preço alto, falta de fiscalização e completo desprezo pelo interesse coletivo. Há um jargão que se refere aos ônibus como “coletivos”, termo com o qual se designaria um tipo de transporte oposto ao carro, individual. Os “coletivos” que trafegam nas ruas da cidade, no entanto, não prezam pelo nome, e são diariamente uma ameaça ao bem-estar coletivo. Avançam sinais, não param nos pontos, apostam corrida entre si. Mas são mais uma indicação de que esquecemos a bandeira da mobilidade urbana e da redução do preço das passagens que parecia vir para mudar – para melhor – a cara das metrópoles.

O jornalista Xico Vargas mantém a coluna ‘Conversa Carioca’, de segunda à sexta-feira, no jornal ‘BandNews Rio 2a edição’, além da coluna ‘Ponte Aérea’ em xicovargas.uol.com.br.

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