“ESTADISTA”, assim, com todas as letras maiúsculas, é um título dado a homens e mulheres dotados de experiência, espírito público, senso de dignidade e vocação para tratar de grandes questões políticas e sociais sem deixar que suas vaidades e projetos pessoais interfiram, impeçam ou corrompam a confiança e a esperança neles depositada pela sociedade. Qual a importância de um “ESTADISTA”? Em momentos de crise política, ou econômica, ou ambas, os estadistas funcionam como um farol na escuridão, uma bússola no meio do nevoeiro, um guia em trilhas incertas. Não há necessidade ser ou ter sido rei, presidente, primeiro-ministro ou dirigente de alguma instituição de prestígio nacional, muito embora alguns confundam a dignidade decorrente do cargo com a dignidade para o exercício do cargo. Olhando os últimos séculos da história brasileira, concluímos que poucos foram os brasileiros que mereceram essa honrosa distinção. Pedro II, Ruy Barbosa, Juscelino, Ulysses, alguns mais com algum esforço e condescendência têm o “direito” de ostentar, em suas lápides, louros que não são comprados, afanados ou distribuídos como títulos de cidadania ou medalhas da Câmara Municipal de Caixa-Prego. Claro que os estadistas não são infalíveis: eles também erram. Mas o fazem confiantes de que suas decisões eram as mais dignas, relevantes ou adequadas à honesta interpretação das circunstâncias tal qual apresentadas por assessores comprometidos com a seriedade, com as instituições e com o interesse público. O que se vê hoje, no Brasil, é fruto de uma mistura tóxica de elementos deteriorados, mas também a carência de líderes capazes de conduzir a sociedade e as instituições para fora do lamaçal em que nos metemos, quer porque nos omitimos, quer porque fizemos escolhas erradas. Nossas instituições, e não me refiro apenas às políticas, salvo raríssimas exceções, são comandadas por pessoas absolutamente despidas de espírito público ou de condições morais para o cargo. Aventureiros, mentirosos, desleais, despreparados, embusteiros, quando não denunciados por crimes, atos de improbidade ou condutas incompatíveis com o decoro de suas funções, são esses que comandam os destinos de 200 milhões de brasileiros. E não culpemos apenas a situação por essa doença crônica: as alternativas, pelo menos no campo político, são iguais ou piores. Na história da humanidades poucas foram as sociedades que conseguiram atravessar crises políticas, econômicas, morais sem sacrifícios extremos. A maior parte sucumbiu, se dissolveu, misturou-se aos vizinhos, desapareceu. Os poucos que conseguiram dar a volta por cima contavam com a liderança desses ESTADISTAS. Nós não os temos.
Gustavo Varella Cabral é advogado, professor, especializado em Direito Empresarial e mestre em Direito Constitucional.