No jogo Brasil x Colômbia, na Copa América, vivi uma experiência diferente. In loco, acompanhei à partida no meio da torcida – e não na área de imprensa. O objetivo era colher impressões, experimentar sensações que ajudassem a entender, a fortalecer a fundamentação de algumas teses que, há algum tempo, tenho compartilhado por aqui – ligadas ao lado cultural, comportamental do futebol; ao em torno, à filosofia, à antropologia da coisa.
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Voltando à partida de quarta, à melancólica, à ridícula atuação da seleção Dunguista, devo dizer que, afirmar que assisti ao confronto entre os adeptos, seria o mesmo que cravar: “vi o duelo junto aos colombianos.” A disparidade favorável à “torcida deles” era descomunal. Algo entre “90 x 10”. O que previa em textos anteriores ao choque entre essas seleções, na prática, aconteceu: a turma do país de James Rodríguez está em peso no Chile e, na linha do que já abordei em outros contextos, tem hábito absurdamente espalhado, acentuado, de viajar para apoiar o selecionado local. Já o amor pelo escrete cebeefiano…
Antes do apito inicial, fiz amizade com um casal. O cara, boa praça, mostrava ótimo nível de conhecimento futebolístico. E, ao longo do cotejo, nas perguntas que fazia a mim, em algo simples, um sintoma, diria, com bom nível de representatividade, sobre nosso futebol – embora seja necessário, em algumas acepções, relativizar seu “valor” enquanto “problema”: o time brasileiro está repleto de coadjuvantes; de peças desconhecidas; de jogadores “sem sal”. De burocratas da bola.
Meu “amigo da hora” indagara: “quem é o 11? Qual o nome do goleiro? Quem é aquele ponta?” Em suma: uma pessoa que vive intensamente o esporte mais popular do planeta, que consome informação sobre a modalidade, que tem amor por ela a ponto de queimar suas suadas economias para viajar com o único intuito de acompanhar um jogo – ele me assegurou que era o caso, e que estaria “ferrado” por um bom tempo pela “extravagância” –, não conhecia Roberto Firmino, Fred, Douglas Costa, Jefferson, Tardelli – antes que os “malas de um lado” surjam, ressalto “convocando” também os “inconvenientes” do outro: ele não identificaria Éverton Ribeiro…
Pescando conversas da galera que estava próxima, questionamentos nessa linha eram realizados o tempo todo. E notem: os simpáticos colombianos não diziam essas coisas com o mínimo de arrogância. Até por inércia, pela história, mantêm boa dose de reverência e respeito pela camisa pentacampeã. O bafafá, a incredulidade pelo anonimato dos componentes de um esquadrão usualmente composto por estrelas, eram banhados por genuína curiosidade; rolava até algum “medo” de estar dando má nota, de estar “passando recibo” de um desconhecimento “condenável”. Tipo: “será que o problema é comigo”? Nessa esteira, tranquilizei alguns: “não se preocupem: se Douglas Costa, Firmino e esse Fred aí passarem no centro de qualquer cidade brasileira, não serão reconhecidos”.
Cadu Doné é comentarista esportivo da rádio Itatiaia e da TV Band Minas, filósofo e escritor