O resultado da votação das primeiras propostas da reforma política, na terça-feira, mostrou mais do que a simples derrota do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, mas que o Congresso não quer mexer nos seus privilégios e não deve votar a reforma que o país está a exigir como única forma de moralização da vida pública nacional. A derrota de Eduardo Cunha começou quando ele achou que seria imbatível e dissolveu, num gesto autoritário, a comissão especial que há meses vinha discutindo a reforma e dispensou o trabalho do relator, deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), nomeando seu conterrâneo Rodrigo Maia (DEM-RJ) para fazer em poucas horas um novo relatório sobre tema tão complexo. O plenário achou que aí já era demais. E derrotou o projeto do voto chamado de “distritão”, pelo qual se elegeriam os deputados mais votados independente dos partidos. O projeto tinha o apoio e o interesse de Eduardo Cunha, até porque era uma ideia do vice-presidente Michel Temer, presidente do PMDB. Na sequencia, Eduardo Cunha pôs em votação a emenda constitucional de sua simpatia que permitiria o financiamento de campanhas eleitorais por empresas públicas e privadas, na verdade o item mais importante da reforma por ser identificado como o canal que liga o mandato parlamentar ao monstro da corrupção. Cunha novamente perdeu.
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Ontem, numa manobra, esse item voltou a ser discutido, assim como o fim da reeleição, a coincidência das eleições, o tempo do mandato dos senadores, entre outros tópicos, mas o que se constatou logo nas votações de terça-feira foi o que já se imaginava: os parlamentares não querem fazer a reforma ampla e profunda, não querem perder privilégios e por conseguinte não querem reformar nada que seja relevante. Daí por que temas como o financiamento público das campanhas, a introdução do voto distrital ou o fim da reeleição não prosperarem entre os deputados e senadores, com algumas exceções. Em suma, é isso. O país perdeu a oportunidade de passar a limpo a sua vida política e partidária e tudo deverá continuar como está – até um novo escândalo quando o tema voltará a agitar as multidões, que, por sua vez, também não tomaram conhecimento da votação.
Carlos Lindenberg é colunista do jornal Metro e comentarista da TV Band Minas. Escreve às quintas-feiras.