Nada, absolutamente nada, é tão contagioso quanto o exemplo, defendeu François La Rochefoucault, um moralista parisiense do século XVII. De moralistas nosso Brasil também entende bem. A política, particularmente, está cheia deles. Estamos no meio de uma crise. Das brabas. Daquelas que surrupiam até a última gota do nosso suor e o último centavo do porquinho, há anos posto sobre a prateleira empoeirada do quarto. Os governos (todos eles, do Oiapoque ao Chuí, com longas e firmes passadas pela capital federal) defendem o tal ajuste fiscal, que deixa os brasileiros ainda mais desesperados, com inflação nas alturas, a economia frágil e as contas de luz, do supermercado e da farmácia pela hora da morte. Por outro lado, não cessam os exemplos que são “o avesso do avesso do avesso” (salve Chico Buarque!). A Câmara de Linhares vai gastar R$ 93 mil em lanches para os edis e seus servidores. Um escárnio! O prefeito de Ibatiba, José Alcure, queria agraciar um sem-número de funcionários com uma gratificação de R$ 543 para… para… Bem, ele não soube precisar para quê. Uma piada! Não faz muito tempo, a Assembleia Legislativa queria criar oito novos cargos com salários de até R$ 10 mil para o Procon Legislativo, que existe há mais de meia década, mas nunca funcionou. O governo federal tem 38 ministérios com quase 25 mil cargos comissionados, de livre nomeação. Poucos dias atrás eram 39 as pastas. O vice-presidente, Michel Temer, fez o doloroso favor de acumular as funções do ministro das Relações Institucionais. Menos um ministério. Mas a folha de pagamento continua a mesma: os mais de 40 cargos foram absorvidos pela Vice-Presidência. Vivemos uma crise hídrica em que quem lava calçada é multado. Mas tratamento diferente tem o dono de grandes empresas que desperdiçam água e sequer sofrem qualquer penalidade. O consumo doméstico, é bom lembrar, representa 12% do desperdício nacional. A culpa também é nossa, mas não só e muito menos principalmente. E ainda tem o malfadado exemplo do diretor-geral do Detran, Fabiano Contarato. Conhecido como “xerife do trânsito”, por sua luta contra infrações de trânsito, o ex-titular da Delegacia de Delitos de Trânsito foi pego com uma mão no volante e outra na ética: cometeu mais de uma dezena de infrações. O delegado culpou o fogo amigo; num ato de desespero, disparou contra políticos; e chegou a tentar dividir a culpa com a sociedade: “Quem nunca dirigiu falando ao celular?” Com todo o respeito ao caro Contarato: eu, não.
Fernando Carreiro é jornalista especializado em comunicação eleitoral e marketing político.