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Rival peculiar

cadu done colunista metroO São Paulo vive ano estranho. No papel, o elenco é excelente. Jogadores badalados, caros. Do meio para frente, sobretudo, opções tidas no mundo do futebol como diferenciadas; sinônimos de refinamento, técnica apurada. Apesar disso tudo, em 2015, em nenhum momento, o tricolor convenceu. São tantos os fatores que interferiram nessa trajetória errante até aqui que fica impossível apreciar tudo com o devido cuidado. Tentarei me ater aos problemas graves.

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Gosto muito de Muricy Ramalho. Desta vez, contudo, o treinador não conseguiu fazer a equipe do Morumbi funcionar. Dividiria os entraves que ele teve em dois pontos. Em primeiro lugar, taticamente, em um plantel recheado de estrelas daquelas que “têm de jogar”, porém pouco consistentes, confiáveis e competitivas, pareceu hesitante na hora de escolher os titulares e o esquema base. Pato e Ganso são tão paparicados, envoltos em marketing; carregam aura tão especial, que era difícil para o técnico deixá-los de lado com convicção, a despeito de ambos, insistentemente, não atuarem com o mínimo de regularidade. Faltou, quem diria, firmeza, ao corajoso Muricy, para colocá-los no banco com mais certeza, pulso. A dupla entrava e saia do time. Era o emblema de um “chove não molha” que raramente dá certo no futebol.

Para piorar, Luís Fabiano – este sim, constante nos seus áureos tempos –, ídolo, dono de personalidade complicada, e também de status diferente no grupo, hoje, fisicamente, tem dificuldades para contribuir de maneira mais completa – no combate, principalmente. Assim, o professor são-paulino tinha nas mãos um trio de pouca eficácia, que deixaria o conjunto muito “mole”, sem pegada. E que, para agravar o cenário, não vinha resolvendo na frente. Trocas de esquema para encaixar essa turma – pelo menos dois deles – aconteceram. A tentativa de adotar a formação com duas linhas de quatro – tendo Ganso pelo lado esquerdo – mostrou-se com um “quê” de cômica. Afinal, enxergar o ex-meia do Santos, naquele estilo “moleirão”, tentando acompanhar o lateral adversário, beirava o ridículo – difícil imaginar tarefa mais incompatível com as características do armador.

O segundo obstáculo de Muricy foi comportamental. A falta de motivação dos atletas em alguns jogos importantes chegou a irritar. Esse aspecto, diga-se, melhorou com Milton Cruz. Para arrumar a casa, o “eterno interino” montou um esquadrão com três volantes. Ganso atrás do centroavante, como uma espécie de segundo atacante, para não ter tanta obrigação de marcar. E Pato, por fim, como homem gol – outra medida visando evitar a perda de combate sem a bola.

E em meio a tantas estrelas, a aquisições festejadas que, estranha e equivocadamente, pouco tiveram chances – casos de Thiago Mendes e Centurión, para ficar nos exemplos mais emblemáticos –, os dois melhores jogadores do São Paulo em 2015 têm sido Michel Bastos e Hudson. Este último não joga hoje.

Cadu Doné é comentarista esportivo da rádio Itatiaia e da TV Band Minas, filósofo e escritor. Escreve no Metro Jornal de Belo Horizonte

 

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