De quantos protestos é feito um impeachment? Quantas mentiras são necessárias para produzir ruas cheias de gente que deseja ver um governante pelas costas? A rigor, há muito no Brasil governantes semeiam mentiras e colhem credulidade. Um dia o ouvido do eleitor cansa. Impeachment, porém, ainda que ferramenta da democracia, é outra coisa. Resulta de lesão grave à Constituição e pode ter origem em coisas simples como a Fiat Elba que vitimou Fernando Collor.
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No Brasil da Lava Jato, a presença crescente do nome da presidente da República nos depoimentos de quem saqueou a Petrobras pode ser preocupante, mas ainda não é determinante de nada. Mais grave foi a reação do Planalto aos protestos, com as desastradas entrevistas dos ministros Miguel Rossetto e José Eduardo Cardozo. Tentaram reemplacar velharias, justamente no momento em que o desemprego aumenta e a economia encolhe.
Em lugar de prometer reforma política – com um Congresso coalhado de gente que multiplicou a fortuna por mil nos últimos anos –, os ministros poderiam ter explicado a debilidade do governo que faz o país patinar. No Rio, enquanto o protesto marchava pela avenida Atlântica, era possível avistar 28 dos mais de 100 navios fundeados ao largo à espera de vaga para descarregar ou embarcar o que aqui se produz.
É a materialização da tibieza do governo que, em 12 anos só conseguiu aplicar 38% do programado para infraestrutura portuária. Boa parte, a juros favorecidos, foi usada para alimentar o sonho de grandeza de Eike Batista em Barra de São João; um porto que ia multiplicar por 10 a população do lugar e hoje amarga recuperação judicial. É desses navios parados que vem um bom pedaço da inflação que traga os salários.
Não é preciso conhecer-lhe vida e obra para saber que João Pedro Stédile, o general cujo “exército” foi invocado por Lula, tem desprezo pela democracia e intimidade com o crime. No “Canal Livre”, na Band, quando disse que “se a gente não gosta da lei, a gente quebra”, expressou a mais sincera doutrina. Seus “soldados” do MST têm destruído décadas de pesquisas agrícolas privadas e estatais, e permanecido inimputáveis à sombra do governo, seu mais fiel aliado.
Aliás, quando disse que a elite deveria mudar-se para Miami e deixá-los construir uma nação socialista, Stédile não só reeditou o “ame-o ou deixe-o” criado pela ditadura como semeou uma dúvida. A que elite se referia? A que enriqueceu com o mensalão? Não pode porque está cumprindo pena. A que assaltou a Petrobras ainda está nas grades. A que viaja de jatinho de empreiteira e tem triplex na praia de Guarujá? Talvez falasse da elite que viaja de trem e protesta no domingo porque nos outros dias trabalha para pagar as contas.
O jornalista Xico Vargas mantém a coluna ‘Conversa Carioca’ na rádio BandNews Fluminense FM, em dois horários, e na página da emissora no Facebook, além da coluna ‘Ponte Aérea’ em xicovargas.uol.com.br. Escreve no Metro Jornal do Rio de Janeiro