Todo larápio é um dissimulado. Não importa que seja o punguista dentro do ônibus. Ou o que leva a bicicleta do menino na praça. Ou o que se faz de cego para ganhar doações na sinaleira. Sempre que são pegos adotam a retórica da inocência e do vitimismo. É como um mantra do mundo da pilantragem. Se for flagrado, negue. Diga que não tem nada a ver. Que estava passando na frente e decidiu entrar. Que é trabalhador, honesto. Que achou que não tinha dono. Diga qualquer coisa, mas negue até a morte se for preciso. Na cabeça do delinquente, o benefício da dúvida não pode jamais ser pior do que a certeza de que ele é culpado. Em uma terra de cristãos, onde o perdão é sagrado, não cometer injustiças também é. Assim, os espertalhões deitam e rolam com a boa fé do povo, das instituições, da Justiça, de tudo. E o Brasil está cheio deles.
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Enquanto isso, as contas do mês não param de chegar aqui em casa. Tem conta de luz, telefone, colégio, cartão de crédito, TV a cabo, inglês, condomínio, supermercado, futebol, etc. Já desenvolvi uma certa fobia de chegar perto da caixinha de correio. Tudo, absolutamente tudo, vem com aumento. E não é pouco. No colégio mais de 20%. Na luz mais de 30%. Na gasolina… Ah, a gasolina. Mas voltemos aos dissimulados.
Eu era adolescente e caminhava na rua em Livramento quando um sujeito passou por mim quase esbarrando. No que me virei havia uns bilhetes de loteria caídos na calçada. Alertei-o. Agradecido, quase chorando, ele me disse que um daqueles bilhetes era premiado e que, em razão de eu ter impedido ele de perder o prêmio, aceitaria vender pela metade do preço para mim. Sim, pela metade do preço! Que alma faria isso, abrir mão de metade de um prêmio de loteria? Só um vigarista.
Eu estava diante de um estelionatário que tentava me convencer do bem que eu havia feito e que eu merecia ser recompensado por isso. Acredite, escorriam lágrimas do sujeito enquanto ele falava que tinha um filho doente em casa, uma mãe morrendo de câncer e que eu o tinha ajudado a não levar uma vida ainda mais miserável. Demorei para me livrar do pilantra, coisa que só consegui quando disse a ele que sabia se tratar do golpe do bilhete. “Não seja injusto comigo”, ainda tive de ouvir. “O bilhete é premiado!”. Enfim, todo vigarista é um ator, um dissimulado, um enganador.
A propósito, há alguns dias Lula deu um abraço na Petrobras “em defesa” da estatal.
Diego Casagrande é jornalista profissional diplomado desde 1993. Apresenta os programas BandNews Porto Alegre 1a Edição, às 9h, e Ciranda da Cidade, na Band AM 640, às 14h. Escreve no Metro Jornal de Porto Alegre