Em 2015 muda tudo. Já a partir de 1º de janeiro, os principais problemas que nos afligem estarão resolvidos. Poderemos matricular nossos filhos em escolas públicas com a certeza de ótima educação. Consultaremos hospitais públicos do SUS com a garantia do pleno acolhimento. Sairemos às ruas com a tranquilidade de que não seremos roubados e mortos pela delinquência. Enfim, 2015 será o ano da redenção, conforme se anuncia na propaganda eleitoral gratuita em rádio e televisão. Todos os candidatos, sorridentes, nos garantem isso. Enquanto fazemos de conta que acreditamos, sabemos que nada disso é verdade. A realidade é que vivemos um processo em que as mentiras se acumulam e as soluções reais estão distantes por vários motivos. Citarei apenas dois.
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Primeiro, nosso sistema tributário é absolutamente concentrador de riqueza e poder. Entenda por “riqueza” a dinheirama que pagamos em impostos e que neste fim de semana bateu a cifra de R$ 1 trilhão 148 bilhões. Este ano, o governo atingiu novo recorde de arrecadação em agosto, quase 20 dias antes do que no ano passado, ou seja, aumentou a carga tributária. Um dos grandes problemas é que a União (governo federal) fica com quase dois terços de tudo, de absolutamente tudo o que é arrecadado. E como tem um dos maiores orçamentos do planeta, isso automaticamente se transforma em “poder”. E então entendemos por que quando um prefeito ou governador se elege ele imediatamente deixa de criticar o presidente. Precisa de recursos, claro. E não raro, passa a tecer elogios. Na penúria em que se encontram Estados e municípios, não convém o cão morder a mão do dono que pode lhe alcançar um osso.
Segundo, nosso sistema eleitoral proporcional é distorcido, tornando as campanhas caras e o eleitor distante de seus representantes. Por mais incrível que possa parecer, a maioria dos cidadãos vai viver uma vida toda sem nunca cruzar com o deputado estadual ou federal no qual votou. Se o voto fosse distrital, elegeríamos e cobraríamos os representantes que estão próximos de nós, morando nas nossas regiões. Isso faria o custo das campanhas cair vertiginosamente. Sem falar que o eleitor não cairia em pegadinhas do tipo votar no Tiririca para protestar contra o sistema e acabar elegendo os mensaleiros Genoino e Costa Neto.
O caminho é longo. E quem uma vez chega lá, não quer saber de mudar. Mas se isso não for mudado, continuaremos enxugando gelo. E sabe-se lá o que nos reserva o futuro.
Diego Casagrande é jornalista profissional diplomado desde 1993. Apresenta os programas BandNews Porto Alegre 1a Edição, às 9h, e Ciranda da Cidade, na Band AM 640, às 14h. Escreve no Metro Jornal de Porto Alegre