A passagem de três dias em Buenos Aires possibilitou ver uma cidade descuidada, com lixo acumulado nas ruas e muitos pedintes. Esta é uma realidade que contrasta com a pujança da capital argentina, que reproduz cidades europeias em sua arquitetura e no traçado das largas avenidas. Há uma insatisfação entre os moradores da cidade com o custo de vida. A inflação real é maior do que a oficial. Esta é uma afirmação de todos os argentinos. No câmbio oficial, R$ 1 vale 3 pesos. Nas lojas, a cotação fica na média de 4,5 pesos e no paralelo há quem ofereça até 12 pesos com o risco de ser cédula falsa. Há centenas de “cambistas” nas ruas. A tradicional rua Florida é o paraíso deles. Afinal, por ali circulam milhares de turistas. E os brasileiros são quase a totalidade. O dólar vale 8 pesos no câmbio oficial. No paralelo pode chegar a 10 pesos. O litro de leite vale 15 pesos que convertidos para real no câmbio oficial equivalem a R$ 5. O quilo da carne bovina vale 80 pesos. Na conversão oficial, ultrapassa R$ 26. Uma corrida de táxi do aeroporto de Ezeiza até o centro da cidade, percurso de 35 km, varia de R$ 100 a 115. Há lojas e fábricas fechadas. E desemprego crescente.
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Mesmo assim, é sempre bom revisitar o país vizinho. Ver um espetáculo de tango, um concerto no Teatro Colón, passear pela Recoleta e por San Telmo nos dias de feira de artesanato e produtos locais. Aliás, comi em San Telmo uma casquinha de “dulce de leche”. Concordei com o anúncio que a apresenta como a oitava maravilha do mundo. É uma forma criativa de vender o produto típico das indústrias de laticínios que faz os consumidores se lambuzarem ao valor de 10 pesos.
No restaurante La Cabaña, em Puerto Madero, comi o tradicional bife de chorizo. O serviço impecável inclui conhecimento de todos os funcionários da casa sobre a carne servida ali. “Só servimos carne certificada angus, de alta qualidade”. Esta frase está na ponta da língua de todos os garçons. É uma demonstração do valor que os argentinos dão à pecuária. Que está presente também nos quadros pendurados nas paredes. São fotos que retratam a aristocracia rural. As exposições no parque de Palermo. Os argentinos sabem vender sua carne para o mundo.
Não poderia deixar de falar no típico alfajor argentino. No voo de retorno encontrei um fabricante vindo para a Expoagas em Porto Alegre. Trazia em malas o produto para degustação na feira. Contou que o principal desafio é o prazo de validade do alfajor. Em média dois meses.
Este é apenas um dos desafios dos vizinhos hermanos. Há muitos outros. E bem mais difíceis.
Lizemara Prates é jornalista do Grupo Bandeirantes de Comunicação. Apresenta o AgroBand, na TV Band, e tem comentários diários sobre agronegócio na Rádio Bandeirantes e na BandNews FM. Escreve no Metro Jornal de Porto Alegre