Nesta segunda inicia-se, verdadeiramente, o processo eleitoral. Tudo o que se viu até agora foram ensaios, conversas, projetos e acomodações políticas. O sistema eleitoral brasileiro, disso ressalvadas a justiça eleitoral e os fiscais das eleições, como o MP, é caótico na medida em que não coíbe coligações absolutamente antagônicas tanto aos projetos dos partidos coligados quanto às composições feitas nos dois níveis da disputa, nacional e estadual. Mas é a realidade que temos e que construímos ao longo das últimas duas décadas e meia. Resta-nos observar ainda mais e escolher aquele representante que nos parece qualificado, sobretudo no campo da ética, para nos representar e realizar as mudanças mais que necessárias ao projeto de um Brasil melhor. Somos latinos e em nossas artérias corre o sangue quente que muitas vezes transforma discussões políticas acaloradas num conflito de proporções enormes. O Brasil jamais foi um país caracterizado por ódio entre as diversas matizes sociais que o compõem, tampouco entre religiões, opções sexuais, cor da pele e outras diferenças, muito embora o preconceito exista e volta e meia seja elevado à bandeira de campanha. Esse é o inimigo a ser combatido sem trégua. A diversidade de espécies (e também de ideologias, cor, credo, etc) é a maior manifestação da inteligência da natureza. Não podemos nos deixar levar pelo impulso de avaliar o homem e suas propostas pela ótica de seus inimigos ou desafetos. Corremos o mesmo risco: julgamento sem defesa, sem piedade, sem aviso. É um processo lento de amadurecimento que não pode ser forçado. Estaremos mais uns meses novamente diante do momento da escolha. São homens e mulheres que se apresentam como pretendentes a fazer por nós, a nos representar, a gerir e proteger o que é nosso. Eles não nos fazem favor algum. Nós é que fazemos a eles: delegamos aos mesmos o NOSSO poder. Pois que tenhamos na mente o seguinte: quando o debate se dá entre ideias, ganham todos, mesmo os perdedores no pleito, porque aumenta o nível de cidadania e de consciência política. Quando o debate se dá entre projetos, ganha a sociedade, que poderá ver implementado o melhor projeto escolhido e, imediatamente, o vencedor do pleito, que poderá implantá-lo. A médio prazo ganha o perdedor do pleito, pois poderá melhorar sua proposta e reapresentá-la no pleito seguinte. Porém, quando o debate se dá no campo do oportunismo e da ganância de um candidato ou de seu partido, TODOS PERDEM, a começar pela sociedade, posto que trocamos um projeto universal de nação por um projeto pessoal de poder.
Gustavo Varella Cabral é advogado, professor, especializado em Direito Empresarial e mestre em Direito Constitucional.