Há pouco tempo, na Rádio Bandeirantes, onde tive orgulho de trabalhar dividindo o espaço com Agostinho Teixeira, fui surpreendido de maneira positiva pela produtora do programa, minha querida amiga Débora Raposo, com o entrevistado do dia: ninguém menos do que Erasmo Carlos. Juro que fiquei emocionado em saber que trocaria palavras com o Tremendão, o escudeiro do Rei Roberto Carlos. Mais do que isso, autor e co-autor das mais belas músicas daquele período fantástico da Jovem Guarda, um gigante no tamanho, no gênio e na forma admirável de ser carinhoso.
ANÚNCIO
Dez dias atrás, num acidente, ele perdeu seu filho Alexandre. Não há como superar ou esquecer a morte de um filho. Quantos, nesse momento que já passaram por essa experiência, estão lendo essa coluna e, na prática, sentem como ela é terrível e ao mesmo tempo a esperança em Deus se faz o único caminho para um reencontro algum dia. É a pura inversão natural do que a vida representa: os pais jamais deveriam enterrar seus filhos, coisa cada vez mais frequente no Brasil, principalmente por obra de crimes ou violência no trânsito.
Mas quando a luz acendeu eu fiz a primeira pergunta para um dos meus ídolos de juventude e a voz do outro lado do rádio começou a responder, fiquei entre a emoção e a certeza de que estava falando com um cara diferenciado. Esse tipo de gente que passa por cima da sua imensa inteligência para responder e pensar com seu coração maior ainda (talvez por isso que, mesmo sem conhecer o garoto, chorei alguns minutos por sua morte, sabendo que como um fruto não cai longe da árvore ele deveria ser muito parecido com seu fantástico pai).
Chorei de novo, no domingo de manhã, quando abri o site do UOL e vi a notícia de que Erasmo, no primeiro show após a morte de Alexandre, aguentou até o fim (afinal, o show tem que continuar), mas despencou numa cascata de lágrimas e dedicou cada acorde daquela apresentação ao filho querido.
De verdade, eu queria estar lá para lhe dar um abraço de solidariedade do tamanho dele, da sua importância para a música brasileira e, principalmente, da sua dor. Estou fazendo isso aqui, da mesma maneira que faço para todos aqueles que passaram por experiência igual, que recebam o amparo divino e a certeza de que seus filhos e filhas estão num plano melhor.
Ao Erasmo, que compôs quase quinhentas músicas numa prova clara da sua estrondosa criatividade, a certeza de que o seu rapaz vai estar esperando sentado à beira do caminho, além do horizonte que todos nós sabemos onde fica.