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Mistificação não limpa a baía para 2016

xico-vargasVigora na política código de conduta segundo o qual não é de bom tom incluir na mesma frase as falcatruas e o nome do adversário que lhes deu origem. Por isso, o ex-ministro e ex-secretário do Ambiente Carlos Minc prefere atribuir a um tempo de verbo o desastre ambiental que o Rio vai oferecer aos esportes náuticos em 2016. “No passado”, diz o hoje deputado, foram construídas quatro estações de tratamento de esgotos que nunca funcionaram, porque jamais tiveram redes a elas ligadas.

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É verdade. Mas dispensa-se, assim, de lembrar que os autores dessa cambalhota são os ex-governadores Marcello Alencar e Anthony Garotinho, no cumprimento da velha máxima: cano enterrado o eleitor não vê e não vira voto. Apesar de vice-presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia, em lugar de botar essa sujeira a céu aberto, Minc prefere tratar de seus próprios bueiros. “Tem que ver a responsabilidade de cada um”, desconversa.

Talvez seja uma saída que o livre de explicar por que, como ministro, inaugurou também uma estação de tratamento, em 2010 – ao lado do canal das Taxas, no Recreio – que cruzou sem funcionar toda a sua administração já como secretário estadual do Ambiente. Não houve nesse tempo ecobarreira ou Unidade de Tratamento de Rio que impedisse o apodrecimento da lagoa de Marapendi com a sujeira que lhe despejou o canal das Taxas.

O que muda, a esta altura, se há 20 anos eram 15% e hoje quase metade do esgoto que chega à baía de Guanabara é tratada? O que conta é que os ilustres governadores falsificaram obras, deram sumiço em 1,2 bilhão de dólares do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara, a podridão só aumenta e ninguém foi chamado às falas. A eleição vem aí e tem candidato até os joelhos nessa lama. Minc e a tropa que enfeita a Assembleia podem fingir que não sabem, mas jogar para a rua a apuração da encrenca é tomar o eleitor por parvo.

Parece a história do lixo na baía. Está todo mundo vendo passar, mas, quando alguém diz que a barca bateu num sofá, volta o discurso de que os lixões estão todos fechados. O problema agora é das prefeituras no entorno da baía. É como a discussão entre Estado, município e ministério da Saúde sobre quem é o dono do mosquito da dengue.

Na poluição, além de Unidades de Tratamento de Rio, vende-se como solução bobagens chamadas ecobarreiras e ecobotes. Todas destinam-se a conter sólidos. Ecobarreira usou a governadora Garotinho, na lagoa de Jacarepaguá, para impedir que gigogas chegassem à praia da Barra. A podridão da água continuou. Ecobotes? Nem uma frota de centenas conseguirá recolher o que flutua na baía. Pura mistificação.

O jornalista Xico Vargas mantém a coluna ‘Conversa Carioca’ na rádio BandNews Fluminense FM, em dois horários, e na página da emissora no Facebook, além da coluna ‘Ponte Aérea’ em xicovargas.uol.com.br. Escreve no Metro Jornal do Rio de Janeiro

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