O Brasil revisitou seus arquivos sobre o Golpe Militar, que completa 50 anos. Os jornais trataram exaustivamente do tema, com análises que foram da condenação da tortura à exaltação do crescimento econômico da época. Se há uma certeza é que os brasileiros não nutrem saudades daquele tempo sombrio – é verdade que alguns poucos ainda o defendem. Por outro lado, não se tem tanta convicção se o momento político do Brasil atual é melhor que os dos anos de desestabilização econômica e administrativa que antecederam o regime. O início da década de 60 foi marcado pelo agravamento de problemas econômicos, com a taxa de crescimento do PIB em declínio e inflação nas alturas. O país estava sem comando e imerso em corrupção. Cinquenta anos depois, o que vemos é a petroleira que simboliza uma das riquezas do país desmoronar. Em cinco décadas, o PIB só conseguiu trocar algumas casas à esquerda, sem grande sucesso. De 1960 para cá, houve, sim, evolução: da forma de subtrair recurso público.
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Um ‘adeus’ às maletas e um ‘olá’ às cuecas e meias recheadas de dinheiro. O país de hoje continua submerso na lama da corrupção. É o reino do tapinha nas costas, do compadrio e dos favores políticos pagos com viagens em jatinhos particulares de lobistas e empresários. Há 50 anos gastava-se dinheiro público com mulheres de cabaré, bebida e cigarro. Com o passar dos anos, o aperfeiçoamento: alguns de nossos representantes dispendem cifras milionárias com lagostas, camarões, champanhe e vinhos finos. Tudo pago com dinheiro público.
Mas, para não dizer que não falei das flores, vem aí a Copa, que trará um sem-número de turistas ao país (enquanto famílias inteiras no Nordeste subsistem na extrema pobreza; as filas em hospitais continuam intermináveis; e os investimentos em segurança pública, escassos). Para não dizer que não falei de flores, vivemos em uma democracia (embora algumas decisões do governo soem autoritárias); nosso mercado de celulares é o segundo melhor do mundo (quando há sinal); e somos o primeiro em mercado de jatos e helicópteros (mas gastamos bilhões na aquisição de caças da Suécia). Cinquenta anos e muitas torturas depois, a convicção de que esperar não é saber. Afinal, quem sabe faz a hora; não espera acontecer. Sábio Vandré…
Fernando Carreiro é jornalista especializado em comunicação eleitoral e marketing político.