A secretaria estadual do Ambiente, o Inea e a prefeitura de Búzios podem caçar navios em toda a costa, em busca do amarelo que tem pintado o mar no último paraíso da Região dos Lagos. Procura inútil, pois o inimigo navega ao lado.
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Há pelo menos duas décadas Búzios entrou no roteiro dos cruzeiros de verão deste lado do munwdo, sem outro objetivo além de tomar o que o turista leva na carteira, no curto período em que terá os pés em terra. Regra ou cuidado ambiental, zero.
Hordas de variados idiomas desembarcam de dezembro a março na praia da Armação para comer, comprar uma bugiganga, uma pequena lembrança, ou simplesmente deixar-se fotografar na orla Bardot. Olhando de longe, parece bom para o comércio, mas como tudo tem preço, não dá para imaginar que a conta vai ser pendurada só no bolso do turista.
Em poucas horas, quando eles partem e deixam um rastro de comerciantes alegres, outro de sujeira e destruição, fica evidente que o turismo nessa terra tanto engorda quanto mata.
Mas nem a fauna – a cada verão mais escassa –, nem a sujeira que dá à praia na Armação, depois que os visitantes zarpam, têm sido eloquentes a ponto de alertar o poder público para o desastre que se arma em Búzios, e não apenas na área tradicional da cidade.
Até agora, o Porto da Barra, belo pólo gastronômico montado sobre uma região de mangue, ao lado da colônia de pesca e das antigas peixarias da praia de Manguinhos, parecia acima dessa ameaça. Mas só parecia.
A classe média alta de Búzios, além de donos de casas de veraneio na península, adotaram o pólo como alternativa ao convívio com a multidão de turistas que tomou a rua das Pedras, suas lojas e restaurantes, e todo o entorno, no Centro.
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Por quase cinco anos sentiram-se protegidos pelo pequeno calado de Manguinhos e pela precariedade do ancoradouro da colônia de pesca, que mal serve a traineiras. Mas isso foi antes de o polo completar sua fieira de restaurantes com lojas de decoração, artesanato e presentes, ainda que de qualidade discutível.
Dia seguinte à mancha amarela que emporcalhou a praia da Tartaruga e levou 60 pessoas aos hospitais da região, um navio de cruzeiro jogou âncora ao largo de Manguinhos e suas lanchas despejaram 343 turistas no ancoradouro. Aquele onde não se imaginava pudesse pisar um fino viajante.
Como nos melhores sonhos do comércio, comeram, beberam, compraram e partiram foram. “Agora é que não vai sobrar um só peixe nessas águas”, avalia dona Alice, 25 anos vendendo pescado na colônia. “É a gânancia”, sentencia Mica, perto dos 70 anos, a vida toda no balcão do mercadinho próximo. “Vai ficar como na Armação, onde não sobrou nada”.
O jornalista Xico Vargas mantém a coluna ‘Conversa Carioca’ na rádio BandNews Fluminense FM, em dois horários, e na página da emissora no Facebook, além da coluna ‘Ponte Aérea’ em xicovargas.uol.com.br. Escreve no Metro Jornal do Rio de Janeir