Dentre as dezenas de histórias de bastidor, há a aproximação entre Dirceu e Antonio Carlos Magalhães (ACM), então senhor da vida e da morte na Bahia. Foi um dos primeiros a cobrar a fatura pelo apoio que deu a Lula em seu Estado e que garantiu ampla vitória na capital e no interior. Dez dias depois da eleição, ACM foi levado ao hotel Naoum por Márcio Thomaz Bastos. Pediu dois favores ao homem de confiança do presidente: “que o novo governo não desenterrasse seus esqueletos e que seu grupo político mantivesse os cargos que ocupava em ministérios e estatais”. Dirceu topou o primeiro e garantiu que a Polícia Federal não buscaria denúncias antigas contra ele. Quanto ao segundo pedido, disse que os apaniguados de ACM deveriam trocar de partido, o que foi imediatamente feito. Rapidamente PL e PTB engrossaram suas fileiras e o poder de ACM permaneceu intocado.
Enquanto uma cada vez menor militância aguerrida ainda sonha com líderes puros e de alma santa, estes enriquecem com o poder. Perpetuam-se em viagens nababescas e venda de influência junto ao governo, cujo verdadeiro dono é o povo, embora talvez nunca venha a se dar conta disso. Dirceu teve como clientes Carlos Slim, Eike Batista, a Vale e inúmeras empresas. De 2005 a 2010 faturou dezenas de milhões, segundo consta no livro. Influência era seu cartão de visitas. O Romanée Conti safra 1997 que custou R$ 6 mil e que Lula ganhou de Duda Mendonça para comemorar a vitória hoje é um vinho barato. É o Brasil.