No delicado equilíbrio entre segurança e privacidade, a Índia acaba de jogar lenha na fogueira. A portas fechadas e sem muita divulgação, o governo emitiu uma ordem exigindo que todos os novos smartphones vendidos no país venham com um aplicativo governamental pré-instalado. Um aplicativo que, aliás, não pode ser removido.
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A medida acendeu o alerta na Apple, Samsung, Xiaomi e outras grandes fabricantes, que já encaram essa tática de “bloatware patriótico” com suspeita.
O que é o Sanchar Saathi e por que agora é obrigatório?
O Sanchar Saathi é um aplicativo lançado pelo Ministério das Telecomunicações da Índia que permite aos usuários rastrear e bloquear smartphones roubados, verificar números IMEI e desconectar conexões móveis fraudulentas. Desde seu lançamento em janeiro de 2015, ele foi baixado mais de 5 milhões de vezes e, segundo dados oficiais, já ajudou a recuperar mais de 700 mil dispositivos.
Agora, o governo quer que todos os novos celulares vendidos na Índia venham com o aplicativo pré-instalado e que os modelos existentes o recebam por meio de uma atualização. Mas a maior preocupação é que os usuários não consigam desinstalá-lo.
A Apple não está satisfeita (e não é a única). A empresa de Cupertino, que historicamente se recusa a permitir a pré-instalação de aplicativos de terceiros por governos, já estaria demonstrando descontentamento. De fato, segundo analistas, a Apple “provavelmente buscará um meio-termo” para evitar conflitos no mercado indiano, onde, embora tenha apenas 4,5% de participação, é uma empresa com peso simbólico.
Samsung, Xiaomi, Vivo e Oppo também estão na lista de marcas afetadas. Nenhuma delas emitiu comentários oficiais... ainda.

E quanto à privacidade?
Para o governo indiano, este aplicativo é uma arma vital contra fraudes e crimes cibernéticos, um problema crescente no país. Mas, para especialistas em direitos digitais, a medida elimina o consentimento do usuário e cria um precedente preocupante.
“O governo está excluindo o usuário da equação”, disse a advogada Mishi Choudhary, especialista em tecnologia e liberdades digitais.
Um precedente global?
A Índia não está sozinha nessa tendência. Em 2025, a Rússia já havia determinado que o aplicativo de mensagens estatal MAX fosse pré-instalado em todos os celulares vendidos em seu território. E parece que mais países estão flertando com a ideia de “aplicativos estatais não removíveis”.
Com mais de 1,2 bilhão de assinantes de telefonia móvel, a Índia é um campo de testes crucial. Se a medida não provocar uma debandada de fabricantes (ou usuários), outros governos provavelmente tomarão nota.
O dilema fundamental: mais segurança ou mais controle?
O debate permanece em aberto: vale a pena sacrificar um pouco da liberdade digital em troca da recuperação de um celular roubado? Ou estamos entrando em águas turvas onde governos podem se infiltrar em nossos dispositivos sem serem convidados?
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Por enquanto, o mercado dará a resposta… e talvez a próxima atualização de software.

