A capacidade de animais como aves migratórias, tartarugas marinhas e abelhas de se orientarem a grandes distâncias deve-se a um fascinante sistema sensorial: a magnetorrecepção.
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A ciência está confirmando que essa bússola biológica depende de dois mecanismos principais: a bioquímica quântica e, em muitos casos, a presença de nanocristais de magnetita que atuam como “ímãs internos” na cabeça dos animais.

O Mistério da Bússola Biológica
A migração anual de milhões de espécies continua sendo um dos maiores enigmas da biologia. Como uma tartaruga marinha consegue nadar milhares de quilômetros de volta à praia onde nasceu, ou um pombo consegue encontrar o caminho de casa sem referências visuais?
A resposta está na magnetorrecepção, a capacidade de detectar o campo magnético da Terra e usá-lo para navegação. Pesquisas atuais sugerem que esse sentido depende de pelo menos dois mecanismos biológicos distintos que utilizam diferentes componentes celulares:
A Precisão da Bioquímica Quântica
Um dos mecanismos mais intrigantes é baseado na bioquímica quântica, particularmente estudada em aves. Acredita-se que esse sistema resida nas células da retina dos olhos das aves e envolva a formação de pares de radicais.
Proteínas Sensoras: O campo magnético da Terra influencia o spin (momento angular intrínseco) dos elétrons dentro dessas moléculas de pares de radicais.

Os “Ímãs na Cabeça”: Nanocristais de Magnetita
O segundo mecanismo, complementar ou alternativo, envolve o uso de nanocristais de magnetita (Fe₃O₄), um óxido de ferro com fortes propriedades magnéticas.
Depósitos desses nanocristais foram encontrados nos tecidos nervosos, especialmente na cabeça e na região nasal, de várias espécies, incluindo moluscos, crustáceos, peixes e abelhas.
Esses cristais atuam como minúsculos “ímãs” que se alinham fisicamente com o campo magnético da Terra. Esse alinhamento é detectado por mecanorreceptores sensoriais, proporcionando uma sensação física da posição e da intensidade do campo.
Enquanto a bioquímica quântica pode oferecer uma “bússola” (direção), acredita-se que os nanocristais de magnetita forneçam um “mapa” (posição), permitindo que os animais saibam exatamente onde estão e se estão perto de seu destino, evitando assim se perderem ao longo das vastas distâncias de suas rotas migratórias.

Animais com essa característica
Embora o mecanismo exato possa variar (quântico vs. magnetita), as espécies que demonstraram um sistema de navegação magnética eficaz abrangem uma grande diversidade.
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Segue uma lista dos grupos de animais mais representativos que possuem esse sistema:
Animais com sistemas de magnetorrecepção confirmada
| Grupo Animal | Exemplos-Chave | Mecanismo e Uso Principal |
|---|---|---|
| Aves Migratórias | Pisco-de-peito-ruivo europeuPombos-correioCegonhas, Gansos. | Acredita-se que eles utilizam principalmente o sistema bioquímico quântico em seus olhos para ler a direção do campo magnético (sua “bússola”). |
| Insetos | Abelhas, Cupins, Moscas de fruta. | As abelhas são o exemplo mais estudado. Utilizam sua magnetorrecepção, que se acredita ser associada à magnetita e ao abdomen, para orientar suas danças de recrutamento e a construção seus ninhos em forma de favos. |
| Peixes | Salmões (durante a migração de retorno a seus rios onde nasceram), Trutas arco-íris . | O sistema os ajuda a se orientarem nas correntes oceânicas. A presença de nanocristais no tecido cerebral ou nas vias nasais foi sugerida. |
| Répteis Marinhos | Tartarugas marinhas (especialmente a tartaruga-cabeçuda e a tartaruga-de-couro). | Utilizam o campo magnético como um mapa tridimensional (lendo a intensidade e o ângulo de inclinação) para retornar às suas praias natais após décadas no mar. |
| Mamíferos | MamíferosToupeiras-nariz-de-estrelaMorcegosVacaseVeados (o uso é controverso e objeto de debate). | Em morcegos, é usado para navegação noturna. Em bovinos, observou-se que eles frequentemente se alinham para pastar ao longo do eixo Norte-Sul. |
| Anfíbios | Sapos e Rãs (durante a migração reprodutiva). | Usam o campo magnético para manter o rumo em direção às áreas de acasalamento. |
A descoberta e a compreensão desse sentido são áreas da ciência que continuam a evoluir, e novas espécies são constantemente adicionadas à lista à medida que as técnicas de detecção biológica melhoram.

