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Como competir com a China? O primeiro passo é construir tão rápido quanto eles

Muito simples

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China, Beijing. (AP Foto/Louise Delmotte, archivo) AP (Louise Delmotte/AP)

Ao falar sobre as diferenças entre os Estados Unidos e a China, o refrão típico é: capitalismo versus socialismo, democracia versus autoritarismo, cristianismo versus confucionismo. Mas Dan Wang, pesquisador da Hoover Institution, tem uma ideia mais original: em seu novo livro, Breakneck: China’s Quest to Engineer the Future, ele propõe que os Estados Unidos são uma “sociedade legal”, enquanto a China é um “Estado de engenharia”.

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A base dessa teoria? As carreiras de seus líderes. Washington é dominada por advogados; Pequim, por engenheiros. Segundo Wang, essa diferença na formação afeta diretamente a forma como governam: os advogados priorizam processos, regras e cautela. Os engenheiros constroem primeiro e questionam depois.

Mas não se preocupe, esta não é uma competição para ver quem é melhor. Para Wang, o ideal seria um equilíbrio: Estados Unidos com 20% a mais de engenheiros e uma China com 50% a mais de advogados.


Quando engenheiros mandam, eles constroem... muito

Nossa entrevista aconteceu no mesmo dia do lançamento de seu livro, em um parque tranquilo em Manhattan. Wang, que cresceu em Wuhan, lembrou como sua cidade natal construiu sete novas linhas de metrô em apenas quatro anos. Seu então prefeito tinha o apelido de “Aquele que Desenterra Tudo”.

Mas hoje, após a transformação urbana, muitos se lembram dele com carinho. E ele foi promovido, aliás.

Enquanto isso, em Nova York, uma nova linha de metrô não é aprovada desde 2007. Wang o compara a Robert Moses, o controverso urbanista que construiu grande parte da infraestrutura da cidade... destruindo também bairros no processo.

Ainda assim, Wang diz que talvez outro “construtor obcecado por resultados” como Moses não faria mal. Ou, pelo menos, alguém que não se atole em processos intermináveis.

Será que isso basta para colocar mais engenheiros no governo?

Não, diz Wang. Também precisamos encarar a lei como uma ferramenta para chegar a acordos, não apenas como uma fábrica de litígios. Na China, o problema pode ser o outro extremo: a construção continua sem parar, sem muita preocupação com a manutenção do que foi construído ou com as consequências sociais.

Os EUA deveriam voltar a fabricar mais coisas?

Sim. De baterias para carros elétricos a chips.

Embora recuperar toda a indústria seja irrealista, Wang acredita que os Estados Unidos deveriam aprender com a China, especialmente no que diz respeito à manufatura avançada. A China, por sua vez, quer investir mais nos EUA, embora o governo de Pequim esteja começando a impor restrições para evitar o vazamento de segredos industriais.

A solução? Menos orgulho e mais colaboração. Como diz Wang: “Se alguém quiser me servir merda, minha resposta sempre será: ‘Posso ter mais, por favor?’”

Governar como um engenheiro parece bom... até que deixa de ser

De acordo com Wang, as empresas gostam da ideia de gerenciar engenheiros: eles são mais racionais, mais focados em resultados. Mas, às vezes, essa racionalidade vai longe demais. Por exemplo, o governo chinês tentou “engenharia” da sociedade: primeiro diminuindo os nascimentos, agora tentando aumentá-los.

O mesmo vale para os setores econômicos. Para Wang, isso é tratar as pessoas como um sistema hidráulico, e geralmente sai pela culatra.

Depois de morar na China por seis anos e vivenciar a política de “zero COVID”, Wang diz ter aprendido que até mesmo a eficiência pode se tornar perigosa: “A linha entre o racional e o irracional é muito tênue.”

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A China precisa de mais advogados?

Sim, ou pelo menos de mais salvaguardas processuais reais. E os Estados Unidos, por sua vez, precisam aprender a construir sem tantos obstáculos e atrasos intermináveis. Wang não quer que a China se torne como os EUA, incapaz de construir infraestrutura. Ele apenas sugere que ambos poderiam se beneficiar se se aproximassem um pouco mais do modelo um do outro.

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