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Os dez melhores filmes de 2018, segundo crítico de cinema da BBC

Seleção inclui histórias que vão desde jornadas de super-heróis a biografias e ficções impressionantes.

A vida real reservou para 2018 episódios marcantes e fortes emoções, mas esses ingredientes também foram projetados nas telonas neste ano que se aproxima do fim.

Crítico de cinema da BBC Culture, Nicholas Barber escolheu aqueles que considera os 10 melhores – alguns estreiam no Brasil em 2019 e outros ainda não têm previsão de lançamento.

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‘Um lugar silencioso’ (A Quiet Place)

Coescrito e dirigido por John Krasinski – que também atua no papel principal junto com a esposa, Emily Blunt – Um lugar silencioso é um filme de sobrevivência que deixa o espectador em tensão constante.

A narrativa usa astutamente um conceito diabólico: monstros alienígenas eliminaram a maior parte da humanidade, mas, por não serem capazes de ver, caçam suas presas quando ouvem os sons que elas produzem.

Isso faz com que o herói, a heroína e seus filhos tenham que falar em linguagem de sinais e andar descalços. Mesmo a queda de um copo ou uma risada podem resultar em uma morte assustadora e quase instantânea.

Krasinski leva o conceito de cinema de baixo orçamento – e as ameaças à família – muito a sério: ele encontra novas formas de torturar os personagens e os espectadores, mas todas surgem de forma muito lógica da premissa do enredo e do cenário.

‘Assunto de família’ (Shoplifters)

De um certo ponto de vista, os heróis de Assunto de família não são apenas ladrões: são vigaristas, sequestradores de crianças e muito mais.

Mas o drama sociopolítico dickensiano de Hirokazu Kore-eda, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano, tem uma visão mais abrangente.

Apresenta três gerações de uma família amorosa, liderada por Osamu (Lily Franky) e Nobuyo (Sakura Ando).

Espremidos em um pequeno bangalô de Tóquio, os insignificantes ganhos honestos da família somam-se a pequenos golpes e assaltos. Embora Kore-eda não romantize os crimes, a narrativa em camadas e o maravilhoso elenco mostram também membros da família gentis e bem intencionados.

Eventualmente, suas ações parecem necessárias, até mesmo heroicas – e suas reviravoltas farão o espectador mais duro soluçar.

‘Guerra Fria’ (Cold War)

A sina dos dois amantes que não podem viver juntos, mas que tampouco conseguem viver um sem o outro, move Guerra Fria.

Wiktor (Tomasz Kot) e Zula (Joanna Kulig) vivem na Polônia da década de 50, período em que ele está recrutando músicos para um grupo folclórico pago pelo governo.

A aventura à dois os leva de um lado a outro da Cortina de Ferro. Mas, apesar de ser divertirem muito em clubes de jazz e salas de concerto, eles nunca estão felizes.

O trabalho de Pawel Pawlikowski, posterior à sua premiação no Oscar com Ida, é baseado livremente nas memórias de seus pais, conforme já comentou: "Ambos eram pessoas fortes e maravilhosas, mas, como um casal, eram um desastre sem fim".

Em termos gerais, Guerra Fria é um exame perspicaz de um período histórico e um comentário oportuno sobre a vida dos imigrantes.

Além disso, nenhum outro filme deste ano teve uma fotografia em preto e branco tão deslumbrante, ou tantas músicas cativantes.

‘Se a Rua Beale Falasse’ (If Beale Street Could Talk)

Este filme, adaptado pelo diretor Barry Jenkins a partir do romance de James Baldwin, poderia muito bem ser dominado por críticas sociais contundentes: conta a história de um jovem casal (Stephan James, KiKi Layne) dilacerado pela pobreza, pela brutalidade policial e pelo racismo institucionalizado.

Mas se a Rua Beale realmente pudesse falar, cantaria uma balada carinhosa que enaltece a cura vinda do amor de casais, parentes e amigos.

"Gosto de pessoas que se amam", diz o personagem de Dave Franco. "Negros, brancos, verdes, roxos, não me importa."

O que é ainda mais milagroso é a impressão de que Jenkins acabara de descobrir o cinema como um meio.

Ou seja, quase se pode acreditar que ele não tinha ideias preconcebidas sobre a cronologia, a cor ou o som do filme – e então descobriu por si mesmo, no caminho, como combinar música e imagens em movimento.

Ele fez um filme de sonhos como nenhum outro.

‘A Favorita’ (The Favourite)

Yorgos Lanthimos é um especialista em visões distorcidas da sociedade contemporânea (Dogtooth, The Lobster, The Killing of a Sacred Deer), então foi difícil imaginar o que ele faria com um drama histórico sobre a realeza inglesa.

A Favorita acaba sendo tão idiossincrático quanto seus outros filmes, mas nenhum deles foi tão engraçado, suntuoso ou comovente.

Passa-se no início do século 18, quando a rainha Ana (Olivia Colman), que está doente, confia em sua melhor amiga Sarah (Rachel Weisz), duquesa de Marlborough, para negociar com os aristocratas que estão brigando pelo país.

Mas quando a prima ambiciosa de Sarah, Abigail (Emma Stone), se muda para o palácio, o palco está montado para uma produção ao estilo do clássico All About Eve – com mais sexo e vômito, entretanto.

O roteiro de Deborah Davis e Tony McNamara é uma festa de insultos deliciosos, e três de suas estrelas merecem estar entre os favoritos na temporada de premiações.

O filme estreou no Brasil na Mostra de São Paulo e deve entrar no circuito comercial em 2019.

‘Homem-Aranha: No Aranhaverso’ (Spider-Man: Into the Spider-Verse)

Foi um ano sensacional para filmes de super-heróis, com trunfos como Pantera Negra e Vingadores: Guerra Infinita.

Mas nenhum deles foi tão especial como Homem-Aranha: No Aranhaverso, uma obra-prima da pop arte psicodélica que mistura animação digital e arte manual.

Com o uso de telas divididas, legendas e ilustrações, o título está mais perto de ser uma história em quadrinhos do que a maioria dos filmes de super-heróis, mas também é deslumbrantemente cinematográfico.

E é também ousadamente pós-moderno ao alinhar super-heróis de múltiplas realidades alternativas à história de um encantador adolescente do Brooklyn.

Os criadores do Homem-Aranha, Stan Lee e Steve Ditko, morreram em 2018. Homem-Aranha: No Aranhaverso parece uma homenagem impecável.

‘The Rider’

O segundo filme de Chloé Zhao como escritor e diretor é um western contemporâneo sobre um jovem peão de rodeio, Brady Jandreau, que foi chutado na cabeça por um cavalo.

Ele sabe que, se retornar às competições, estará arriscando sua vida. Ele tem, inclusive, um amigo próximo com danos mais sérios do que ele, no cérebro. Mas o homem não consegue imaginar fazer qualquer outra coisa.

A história humana de sua lenta recuperação tem coisas fascinantes a dizer sobre a pressão do machismo, a iconografia do Velho Oeste e as pessoas que vivem em lugares muito aberto, mas que não têm para onde ir.

O que é realmente impressionante, contudo, é o modo como Zhao liga realidade e ficção.

Não se engane, The Rider é um drama bem polido, mas seu poder deriva da base das próprias experiências de Jandreau, e a maioria das pessoas nele interpreta versões de si mesmas.

Raramente, se é que algo assim já existiu, o realismo documental e a grandeza poética combinaram-se com tanta habilidade.

‘Leave No Trace’

Oito anos depois de Inverno da Alma, sua diretora e co-roteirista, Debra Granik, retorna triunfante com outro drama maduro, intransigente, mas acessível.

Ben Foster é muito convincente como um veterano de guerra com sequelas que vive na floresta, em um parque nacional.

Thomasin McKenzie é sua filha adolescente, Tom, que nos lembra quando a diretora Granik deu a Jennifer Lawrence seu importante papel principal em Inverno da Alma.

O filme é tenso e cheio de incidentes, mas também caloroso e discreto: uma história agridoce sobre uma filha amorosa que percebe que os meios de sobrevivência de seu pai nunca podem ser seus.

Seu grande discurso de despedida é assim: "Pai, eu sei que você ficaria se pudesse". E não há mais nada a acrescentar.

‘O primeiro homem’ (First Man)

Damien Chazelle e Ryan Gosling, respectivamente diretor e a estrela de La La Land, encontram-se novamente na história biográfica centrada em Neil Armstrong, a primeira pessoa a andar na Lua.

O filme transmite com força o quão estressante foi ser um pioneiro do espaço nos anos 60. Mostra também quanta coragem era necessária para pilotar uma das formas mais desconfortáveis e perigosas de transporte já concebida.

Mas Chazelle e sua equipe se recusam em transformar Armstrong em um herói americano.

Para alguns espectadores, seu estoicismo o tornou alguém chato. Para outros – inclusive eu – a modéstia e a reserva de Armstrong diante de uma imensa tragédia pessoal e de desafios profissionais são de partir o coração.

Uma recriação melancólica de uma vitória ambígua, o filme deixa você imaginando se o primeiro homem a pisar na Lua poderia algum dia ser feliz na Terra.

‘Sweet Country’

O filme de "velho oeste" no sul de Warwick Thornton passa-se na Austrália da década de 1920.

Seu herói Sam (Hamilton Morris) é um camponês aborígene que mata o estuprador de sua esposa em legítima defesa, e depois foge pelo deserto.

A busca que se segue é engenhosa, com flashbacks desorientadores e avanços dotados de muita ação.

Cada tiro e cada palavra têm um propósito, em consonância com os personagens aborígenes que estão inclinados a permanecer em silêncio enquanto os "brancos" (incluindo Sam Neill e Bryan Brown) vociferam.

Assimilação, escravidão, religião, militares, estado de direito e o próprio cinema justificam que esta saga cênica seja um dos melhores e mais importantes filmes sobre a história da Austrália.

Leia aqui o artigo original em inglês na BBC Capital.


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