Uma jornalista da BBC afirma que sofreu assédio sexual do deputado russo Leonid Slutsky.
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Repórter da BBC Rússia, o serviço russo da BBC, Farida Rustamova é a terceira jornalista a acusar o parlamentar de comportamento sexual impróprio.
O deputado do Partido Liberal Democrata, uma sigla conservadora, nega as acusações e afirma que vai processar as jornalistas por difamação.
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A Rússia não viu a mesma mobilização contra o assédio sexual que ocorreu em outros países europeus e nos Estados Unidos após casos ruidosos envolvendo pessoas famosas virarem manchete.
‘Fiquei sem palavras’
Rustamova gravou a entrevista com o parlamentar ocorrida há um ano, na qual ocorreu o incidente.
A gravação está em posse da BBC, que decidiu não publicá-la.
Em 24 de março de 2017, Farida Rustamova visitou Leonid Slutsky, líder do comitê de assuntos externos, em seu gabinete para ouvi-lo sobre a visita que Marine Le Pen, então candidata à presidência da França, faria à Rússia.
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Durante a entrevista, Slutsky inesperadamente mudou de assunto e perguntou se a jornalista não gostaria de deixar a BBC para trabalhar com ele.
Quando Rustamova recusou a oferta, ele reclamou: «Você está tentando fugir de mim, você não quer me beijar, feriu meus sentimentos».
A jornalista explicou que pretende se casar com seu namorado. O parlamentar retrucou: «Ótimo, você vai se casar com ele, e ser minha amante.»
Rustamova diz que o político então se aproximou dela e, em suas palavras, começou a «passar a palma da mão nas partes baixas do meu corpo».
«Eu não entendi o que estava acontecendo», diz ela. «Simplesmente fiquei sem palavras, resmungando alguns sons, fiquei sem reação. Falei algo sobre não voltar a vê-lo, que ele tinha passado a mão em mim.»
A julgar por sua resposta, que também foi gravada, o deputado não concordou com a descrição do que ocorreu. «Não passo a mão nas pessoas. Ok, só um pouco. ‘Passar a mão’ é uma expressão muito feia'», disse ele.
A BBC questionou o deputado Leonid Slutsky sobre o que ocorreu no dia 24 de março de 2017, mas ele não respondeu às perguntas.
Farida Rustamova é terceira jornalista a acusar o deputado de conduta sexual imprópria nas últimas duas semanas. As outras duas mulheres são Yekaterina Kotrikadze, editora do canal de TV RTVI, e Daria Zhuk, produtora da TV Rain.
O parlamentar afirma que o caso se trata de uma trama política.
«As pessoas estão infelizes com a autoridade do comitê de assuntos externos e com seu líder», disse. «Temo que esse seja um típico exemplo de jornalismo feito sob encomenda para diminuir nossa autoridade, mas acabou fortalecendo-a».

‘Vamos checar’
A Duma, a Casa Baixa da Assembleia Federal da Rússia, afirmou que a culpa de Slutsky não foi comprovada e pediu que as supostas vítimas relatem os casos ao Comitê de Ética do Parlamento.
Em declaração ao jornal Vedomosti, na quarta-feira passada, o porta-voz do Parlamento, Vyacheslav Volodin, afirmou: «Vamos deixar a política para os políticos. Vamos checar isso (as denúncias). Mas uma história sempre tem dois lados».
«Então, se seguirmos o processo legal, se houver uma acusação, o que podemos fazer? Se você ofender alguém, você deve se desculpar. Se você provocar alguém, você deve assumir a responsabilidade», disse.
Ele também disse que jornalistas mulheres que tenham medo de cobrir o Parlamento russo devem procurar trabalho em outro lugar.
Rustamova está preparando sua declaração ao Comitê de Ética da Assembleia. Ela diz que Leonid Slutsky não pediu desculpas sobre o que ocorreu.
A legislação russa não trata de casos de assédio sexual. A deputada Oksana Pushkin afirmou à BBC que a lei que proíbe coerções sexuais (artigo 133 do Código Penal da Rússia) «não funciona».
Assédio sexual na Rússia
– A Rússia não tem lei contra assédio sexual
– A culpabilização de vítimas de assédio ou estupro é muito alta no país. Normalmente, é dito que mulheres «incentivaram» os casos
– Nas redes sociais, no entanto, a forma como o assunto é tratado tem mudado. Em 2016, a hashtag «Não tenho medo de falar» se espalhou pelo Facebook na Rússia, com homens e mulheres contando sobre casos de violência sexual que foram vítimas
– Ativistas estão convencendo os jovens sobre condutas sexuais sem violência
– Advogados estão procurando maneiras de introduzir a ideia de sexo consensual na lei